Se vivemos em busca da felicidade, ela volta e meia bate a nossa porta, se alegrar e ficar feliz com coisas tão bobas, tão simples, como: o sorriso de uma criança. Ao ver a alegria delas em alguma situação do dia a dia, como: brincar, correr, pular, soltar pipa, jogar futebol, essas brincadeiras que existiam durante a infância de quem nasceu até 1990.
Alguns pais queriam que ainda fosse assim, as brincadeiras das crianças, ligando a sessão nostalgia em muitos, afinal naqueles tempos não existia tanta malícia e maldade, não tinha os fatores viciantes que hoje só escravizam e adoecem nossas crianças e adolescentes, como a tal da tecnologia cibernética, mas os tempos mudaram.
Claro que é muito bom ver as crianças em suas conversas particulares, naquele monólogo onde só eles sabem do que se trata, e os pais nem de longe sabem e nem entendem nada. A criança usa sua imaginação e criatividade enquanto brinca sozinha, emite sons aleatórios, com toda facilidade em argumentar dentro do seu mundo lúdico, e mesmo sem querer a criança dentro de todo aquele universo, deixa os pais com aquela sensação de felicidade, quando os pais percebem todo aquele desenvolvimento do filho, logo reconhecem a importância que realmente tem a criança de brincar.
A correria do dia a dia, tantos compromissos, preocupações, dívidas, responsabilidades do mundo secular que o ser humano vive nestes tempos modernos, tira muito do tempo que se tem, e os pais acabam por falta de tempo, não participando como deveria dessas e de outras aventuras dos seus próprios filhos, e quando se vê o tempo passou e eles cresceram.
Nas gerações anteriores, a criação dos filhos era dada a mãe e ao pai ficava a responsabilidade de trazer o sustento e provisões pra casa, mas com o passar do tempo, as mulheres se empoderaram e conquistaram autonomia, e com isso vieram outras funções sociais, onde elas começaram a dividir não só o sustento da casa com seu par, e também a responsabilidade da criação dos filhos com o pai, isso se estende a outros variáveis sociais, como nos casos das mães solos, tendo aí o papel duplo em muitos casos.
E com o tempo a tecnologia invadiu os lares e as famílias, e assim sem perceber virou praxe entregar o smartphone para que nossos pequenos o usem como entretenimento, para brincar, jogar, assistir algum desenho animado, e o que era para ser um evento rápido, enquanto se termina uma tarefa ou outra, vai se estendendo por um tempo cada vez maior e quando menos se espera eles começam a ter este entretenimento temporário como agente escravizador, usando a mente ainda virgem dos nossos pequenos para fazer o que bem entendem.
Já que, os compromissos e responsabilidades cotidianas dos pais não deixa sobrar tanto tempo assim, não se dispõe de tempo para fazer uma vistoria, olhar direito o que realmente eles estão vendo, com quem estão falando, se relacionando. Será que eles estão mesmo só brincando em algum joguinho eletrônico? Ou o algoritmo o levou para outras janelas dentro daquela navegação em que ele está?
É possível garantir que o algoritmo já fez o papel dele, e ao fazer isso deixa uma culpabilidade embutida aos pais, porque deixam suas crianças a mercê da sorte, e nas mãos deste feitor inescrupuloso, e ele, como todo feitor que se preza, vai escravizar com todas as armas que tiver.
Surgiu vários jogos instigantes que foram preocupação para muitos pais, gerando um medo avassalador, como o jogo da baleia azul, entre outros, jogos que pediam que a criança fizesse coisas como desafios a cumprir para continuar a participar no jogo, e com isso uns hackers conseguiam entrar em contato com a criança e faziam chantagens e ameaças para que a criança continuasse com os desafios, alguns desafios induziam o suicídio, e infelizmente podemos ver algumas famílias de luto por causa de situações assim.
Ainda dentro das armadilhas dos algoritmos, as redes sociais, começaram a veicular de forma incessante a entrada de personagens de cunho maléfico nas redes sociais, iniciaram pegando personagens de desenho e criando uma versão maléfica daquele personagem, sempre lutando contra o personagem real, e ai com o tempo começou a surgir personagens criados para alimentar a curiosidade das crianças sobre ter ou não ter medo, como foi o caso do Siren Head, e isso também tem contribuído para associações que as crianças começaram a fazer sobre o bem e o mal, sobre certo e errado, sobre o que é perigoso ou não, crianças não tem o discernimento necessário para diferenciar tais coisas sozinha, isso ainda é função dos pais, e não do YouTube, TikTok, Kwai, entre outros meios usados por elas nas redes sociais.
E ainda tem o acesso por meio das redes sociais de pedófilos, que em alguns casos aliciam as crianças, conseguem fotos sugerindo sedução e até nudes. Segundo Ribeiro, 2022, a pedofilia é um tipo de perversão sexual, na qual há preferência por meninos e/ou meninas pré-púberes. Caso haja exploração dessa criança, o indivíduo acometido dessa patologia passa a ser um criminoso.
A pedofilia é crime pela lei 8069 de 13 de julho de 1990, Em 2003, o Estatuto da Criança e do Adolescente incorporou o termo internet e transformou em crime a divulgação de imagens de pornografia infanto-juvenil por meio desse veículo. A pena é de reclusão de 2 a 6 anos. Em 2008 ela teve uma alteração para aprimorar o combate a pedofilia, seguindo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ela não se trata de uma questão nacional, ela é um problema a nível internacional.
Existe uma rede internacional que se aprimorou por meio das redes sociais, o YouTube é uma das redes muito usadas, assim como o WhatsApp e o Telegram, mas tem também o e-mail que é muito usado, existe já uma indústria da pornografia infantil a nível mundial, que fatura cerca de 3 bilhões de dólares por ano e avança cada vez mais.
“Para além de outras mazelas às quais as crianças podem ser submetidas, como trabalho infantil, violência e maus-tratos, estão aquelas ligadas a outros tipos de exploração, como a sexual. Nesse sentido, não apenas a prostituição infantil é um problema contemporâneo, mas também o que se conhece por pedofilia.” (Ribeiro, 2022)
Segundo Ministério Público do Rio de Janeiro existe já mais de 20 mil sites de pedofilia na internet. Em geral, quem participa são pessoas de boa situação financeira, profissionais de informática, fotógrafos, médicos, policiais e muitos são estrangeiros que chegam ao Brasil com a função de alimentar as redes de pedofilia mundial, em geral os aliciadores e abusadores são homens de 20 a 40 anos de idade, que de redes internacionais, então eles se instalam no país com o objetivo de fotografar crianças e adolescentes para alimentar essa rede. Ficar sempre alerta com as crianças é algo fundamental para prevenir e intervir em casos semelhantes.
Durante a pandemia as redes sociais e o acesso ao smartphone ficou algo necessário e comum em todas as famílias, afinal foram meses trancados em casa, filhos sem aulas, pais em home office, e neste período pode-se perceber o boom de várias coisas associadas as redes sociais.
Surgiram profissões, como influenciadores digitais, blogueiros, criadores de conteúdos, gerenciador de carreira, web designer, entre tantas outras, e algumas outras profissões tiveram que se adaptar aos novos tempos, como foi o caso dos professores, psicólogos, advogados, juízes, promotores, entre outras profissões que tiveram que mudar todo seus métodos pedagógicos e/ou de atendimento para a única maneira viável durante este tempo que era trabalhar em home office.
Claro que iria surgir criadores de conteúdos destinados as crianças, crianças e adultos que estão ali na tela do smartphone brincando, pulando, jogando, viajando, indo a shopping, Disney, parques de diversões, zoológicos, jogando vídeo game e isso tudo em seus canais do YouTube criados muitas vezes pelos pais destas crianças, talvez o intuito do pai destas crianças queria apenas ajudar ao filho deles para ter como passar o tempo, já que estavam trancados em casa e isso poderia adoecer ao seu filho, e alguns conseguiram com isso, bombar seus canais e assim tiveram muitos likes, views e seguidores, e criaram um novo nicho de entretenimento que não existia.
Os tempos pandêmicos trouxeram junto com ele uma potencialização dos transtornos psicopatológicos, desenvolvendo em muitos ansiedade, depressão, síndrome de pânico, entre outros transtornos, muita gente adoeceu; a partir disso foi percebido o quanto as políticas públicas e a sociedade esqueceu de cuidar da saúde mental da população, também percebeu-se o quanto o estigma do senso comum sobre a Psicologia ainda resiste dentro da cultura do nosso pais.
Algumas pessoas não acreditam, mas criança também tem ansiedade, também tem depressão entre outros transtornos, durante muito tempo só era percebido nas crianças o Complexo de Édipo, narcisismo, autismo, e outros transtornos só eram percebidos quando elas eram vítimas de algum tipo de abuso e/ou violência.
Diante do discorrido acima, fazemos o seguinte questionamento: Qual a influência da tecnologia no desenvolvimento físico, mental e social da criança? No contexto do mundo moderno, as telas, antes restritas à televisão, evoluíram para dispositivos de mídia como smartphones e tablets, e fazem parte do cotidiano de pessoas de diferentes níveis sociais e faixas etárias, inclusive crianças em idades cada vez mais precoces.
Além do acesso precoce, o tempo de tela, que é entendido como o tempo total pelo qual a criança permanece exposta a todas as telas, tem aumentado. A média de exposição é superior ao tempo recomendado, segundo alguns estudos. A literatura mostra que 75% das crianças entre 2 e 3 anos de idade excedem o tempo de uso, contrariando as recomendações da Academia Americana de Pediatria (AAP) em relação ao uso de mídia.
O fato das crianças substituírem as brincadeiras clássicas que se brincavam há aproximadamente uma década e meia, que envolviam muitos movimentos físicos por jogos eletrônicos, computadores, videogames, entre outros, estão comprometendo tanto a saúde física, como psicológica das crianças, provocando o isolamento social da mesma, pois, cada vez mais crianças são acometidas por um outro fenômeno que pode desencadear outros transtornos e situações que levam a criança a se isolar ainda mais que é a obesidade, isso em função do sedentarismo causado pelos dispositivos eletrônicos.
“Antigamente as crianças tinham a prática de atividades saudáveis, como futebol na rua, pega-pega, esconde-esconde, dentro de sua rotina. Hoje elas estão imersas ao mundo virtual e tecnológico, principal causa do sedentarismo infantil”. (Macêdo apud Garmes e Moura, 2014)
A utilização da tecnologia de forma indiscriminada pelas crianças, provocam vários desequilíbrios físicos e psicológicos, com isso, vemos se potencializar o isolamento social, e que ainda se agrava com os distúrbios alimentares que surgem através do sedentarismo, característica essa que é predominante na adesão a plataforma virtual, nesse sentido, esse fenômeno causa: o embotamento afetivo, despersonalização, ansiedade e depressão, impedindo o pleno desenvolvimento e amadurecimento afetivo, físico, cognitivo e social das crianças.
“O nível de atividade física nas crianças tem demonstrado que a tecnologia tem ganhado espaço no mundo das crianças e vem diminuindo a atividade física na infância. As crianças vem se tornando cada vez mais sedentárias por hábitos como assistir televisão, jogar vídeo game, usar computador”. (Machado, 2011, p.13)
Embora o acesso às informações e a presença de tecnologias na sociedade sejam de grande valia, esses não garantem o crescimento intelectual e a promoção do viver saudável. Nesse estágio da vida que é a infância, há grande interação e captação de estímulos, e é ativamente nessas relações, principalmente com os instrumentos tecnológicos, que a saúde infantil está em constante influência.
Algumas evidências científicas mostram que, quanto mais nova a criança, menor a capacidade do cérebro de discernir a ficção da realidade. Além disso, durante os primeiros anos de vida, a formação da arquitetura cerebral é acelerada e servirá de suporte para todo o aprendizado futuro. Por isso, deve existir um cuidado com quais elementos tecnológicos o público infantil utiliza e de que maneira o faz.
Estudos mostram que muitos indivíduos têm um aumento da secreção de dopamina, um neurotransmissor responsável pelo prazer, enquanto usam seus smartphones para acessar o mundo virtual. Quando ficam impossibilitados de utilizar o aparelho, apresentam irritação, angústia, ansiedade e até mesmo agressividade. Já o uso excessivo de telas durante a noite traz prejuízo ao sono. A luz azul emitida pelos dispositivos inibe a produção da melatonina, um hormônio essencial para a qualidade do sono.
Sabemos que apesar de existirem muitas consequências negativas comprovadas por estudos, pelo uso excessivo da tecnologia na vida das crianças, as pesquisas demonstram também que as mesmas, ao apresentarem maior contato com computadores tendem a ser mais inteligentes, dessa maneira, no caso da habilidade referente à escrita as crianças estão surpreendendo no relato verbal, visto que, as mensagens instantâneas estimulam esse contingente a escrever cada vez mais, aumentando assim o vocabulário das crianças.
A partir das pesquisas, percebemos o quanto se faz necessário compreender a função educativa e recreativa da tecnologia para estimular as crianças a assumirem responsabilidades no manuseio de tais aparelhos. Cabe aos pais, se munirem de informações que possam subsidiar o desenvolvimento de estratégias para a prevenção do estresse tóxico ligado a atual epidemia chamada dependência digital.
Sugerimos aos pais que coloquem sua criança em uma terapia logo que perceberem nela os sintomas de inquietação, irritação, agressividade, insônia, principalmente quando não estão com seu acesso livre para as redes sociais, e assim também quando perceber nelas sintomas de ansiedade, tristeza, isso pode gerar uma depressão, e ajuda psicológica pode ser necessária para criança.
O psicólogo pode ajudar com um processo terapêutico destinado a cada caso. Quebrar a rotina da criança e da família é uma das medidas necessárias para o iniciar os cuidados, atividades físicas, reforço escolar, cursos de inglês, redação, português e ou matemática, ocupar o tempo, diminuindo o tempo ocioso da criança.
Referências:
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Com Francisca Leiliane Maia (Graduada em Ed. Física, Especialista em Musculação, Discente de Psicologia, Especializanda em TCC (Terapia Cognitivo Comportamental).
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