Você consegue imaginar uma dor invisível que pode levar a pessoa a não valorizar a própria vida? O quanto é possível um ser humano suportar tamanha dor? O sofrimento abre inconscientemente ao indivíduo maneiras de ver a sua vida sem todas as suas frustrações, mas ao mesmo tempo, mascara situações que poderiam ser percebidas por familiares e amigos, mas não são assim tão visíveis como deveriam ou poderiam ser.
O Cristianismo condena o Suicida, sempre disse que: “Quem comete o suicídio não tem salvação e irá direto para o inferno”, até bem pouco tempo era negado a família do suicida a atenção pastoral que é dada a todos, como a missa de corpo presente, entre outras coisas que não cabe nesta discussão.
Para Emile Durkheim (1858-1917) sociólogo francês “O suicídio não é uma atitude isolada de um indivíduo, e sim oriundo de causas sociais, uma consequência situacional da sociedade que o cerca”, teoricamente as personalidades midiáticas, que já chegaram ao sucesso profissional, não teriam razão alguma para praticar este ato, então como explicar o suicídio de Flávio Migliaccio, Robin Williams, Kurt Cobain, e como relatou Andrew Solomon em seu livro “Um Crime da Solidão – Reflexões Sobre o Suicídio” (2018), quando fala da icônica escritora Virginia Woolf, “Ela tentou salvar-se pela arte, mas acabou sendo vencida pela dor”.
Freud o pai da Psicanálise também cometeu suicídio, mesmo tendo vencido outras doenças e vícios ele optou por este ato aos 81 anos de idade com a ajuda do amigo Dr. Max Schur, injetando uma dose letal de morfina nas suas veias, mas ele dizia em suas teses que “O suicídio não é o mesmo que o instinto de morte, este tal instinto não pode necessariamente ser expressado em suicídio”. “os impulsos autodestrutivos revelam o sentimento de culpabilidade e a necessidade de autopunição decorrente do ódio inconsciente dirigido a pessoas queridas e do desejo, também inconsciente, de que elas morram”. “A extrema complexidade do fenômeno nos faz concluir que, apesar das contribuições meta psicológicas que nos permitem, à luz da psicanálise, compreender a natureza inconsciente da autodestruição não se pode prescindir, no estudo de casos individuais, de uma perspectiva que leve em conta a singularidade das motivações que contribuem para a tessitura múltipla da rede de fatores que impulsionam a busca da própria morte. A história individual, o contexto sócio cultural, e a visão que tem do suicídio a sociedade, contribuem para a trama singular, específica e acessível à análise dos atos destrutivos”.
A Opas – Organização Panamericana de Saúde e a OMS – Organização Mundial de Saúde, informa que são mais de 800 mil suicídios no mundo por ano, o que representa uma pessoa a cada 100 mortos, em 2020 durante a pandemia teve um crescimento de 32% em comparação com ano de 2019, no Brasil cerca de mais de 12 mil anuais, é praticamente 6% da nossa população, a cada dez, 8 são homens e 2 são mulheres, sendo um cometido a cada 41 minutos aproximadamente, segundo o Data-Sus – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, a média brasileira é de 6 a cada 100 mil habitantes, a cidade brasileira que teve o maior número de suicídios neste período foi Altamira-PA, que teve 15 notificações referentes, sendo que 9 destas 15 eram jovens entre 11 e 19 anos, no Brasil com a conscientização trazida pela campanha do “Setembro Amarelo” tivemos em 2020 durante a pandemia um crescimento de 0,4% comparado a 2019, entre 2006 e 2017 44% dos suicídios entre os indígenas ocorreram entre os 10 e os 19 anos, a maneira mais usada para o suicídio é o enforcamento, seguido de envenenamento e por outras formas letais, mesmo assim são absurdos que só vemos crescer com pesar e mãos atadas. Apesar de não ser um fenômeno recente, ele tem impactado fortemente em toda as sociedades, não só a brasileira, e os Órgãos Internacionais de Saúde tem tratado o assunto como um grave problema de saúde pública.
O suicídio é uma tragédia que afeta a família, a comunidade e países inteiros, e tem efeitos avassaladores nas pessoas que ficam pra trás, apenas com a dor e a saudade. Em 2016 este fenômeno já estava em segundo lugar como as principais causas de morte dos jovens entre 15 e 29 anos, o que tem começado ainda mais a agravar tudo isso é o fato de que jovens com idades menores que 15 anos já estejam cometendo também este ato. Para a OMS 90% dos casos poderiam ter sido evitados, a pandemia potencializou com todas as suas restrições e precauções, o confinamento, entre outras coisas formaram um ponto além da curva, vimos o estresse, a ansiedade e a depressão dominando pessoas que outrora nem tinham dado conta de ter estes transtornos, e aquelas que já os tinham elevaram o grau destas dores silenciosas e traiçoeiras num ponto bem além do normal de cada um.
O CVV – Centro de Valorização da Vida disponibiliza o número 188 para eventuais notificações, mas é também para acolher, escutar e ajudar na prevenção com toda a família. A OPAS disponibiliza em seu canal do YouTube dicas de como lhe dar com o estresse e ansiedade durante este período da pandemia e é um dos vídeos mais acessados do canal. A campanha do “Setembro Amarelo” tem sido de extrema importância na construção do saber enxergar o fenômeno, em uma forma mais ampla, os pais e familiares devem estar atentos a tudo, a UNICAMP – Universidade de Campinas publicou um estudo onde chegou à conclusão que 17% dos brasileiros já chegaram a pensar em dar fim a própria vida e destes 4,8% chegaram a fazer e elaborar um plano para isso. Saber o que falar é fundamental, principalmente agora com todas as portas abertas que quebraram o tabu que sempre teve em torno do assunto, falar sobre isso ficou mais claro e mais acessível a todos, podemos ver bem mais divulgação do assunto e compartilhamentos que fizeram com o alerta do “Setembro Amarelo”, esta campanha trouxe pontos muitos positivos na prevenção e acolhimento, afinal o que leva uma pessoa a pensar em se matar?
Nunca é um motivo único e sim um conjunto de situações que tendem a pressionar o indivíduo, como cobranças sociais de gênero, raça ou credo, aceitação ou não do corpo, cobranças sociais, remorso, culpa, humilhação, fracassos, e toda esta angústia pode causar ansiedade e ou depressão, que podem culminar na decisão de tirar a própria vida, vale salientar que na grande maioria das vezes, o indivíduo só quer interromper o sofrimento e a dor que está passando naquele momento, por um fim de vez nisso.
Pessoas com sintomas suicidas normalmente fala mais do que o normal sobre morte e suicídio, estão desesperançadas, culpadas, sem auto estima e uma visão negativamente exagerada sobre sua vida e futuro. Conversar ainda é fundamental para que a pessoa que está sentindo esta angústia, esta dor, consiga aliviar-se e amenizar os seus impulsos e pensamentos, mudar um pouco a rotina, e transformar na medida do possível realidade vista pela pessoa para uma realidade menos nociva, não julgar, não condenar, escutar, acolher, dar carinho e atenção, não reclamar se estiver sentindo que já passou dos limites, entre tantas outras coisas pode ajudar muito, mas é importante um apoio especializado, a ida a um psicólogo é indicado, não deixe pra depois, pode vir a ser tarde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Solomon, Andrew; Um Crime de Solidão, Reflexão Sobre um Suicídio; (2018) 1ª Ed. Companhia das Letras – SP
Parreira, Vera Toste; O suicídio em Freud (1988 ).disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/9703?show=full acesso em: 13/09/2021 as 15:50h
Rosa, Vitor; Setembro Amarelo, Pandemia não Aumenta Casos de Suicídio no Brasil mas Números Ainda são Preocupantes; (2021) disponível em: https://www.segs.com.br/saude/309301-setembro-amarelo-pandemia-nao-aumenta-casos-de-suicidio-no-brasil-mas-numeros-ainda-sao-preocupantes acesso em: 13/09/2021 as 19h
Falando Abertamente Sobre o Suicídio CVV; (2020) Disponível em: https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/Cartilha-Falando-Abertamente-2020-vers%C3%A3o-impress%C3%A3o-A4.pdf acesso em 13/09/2021 as 19:12h
Ministério da Saúde; Saúde de A a Z, Suicídio; (2020) disponível em http://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/suicidio acesso em 12/09/2021 18h
Fala Universidade; As Taxas de Suicídio tem Aumentado Durante a Pandemia de Corona Vírus; (2021) disponível em: https://falauniversidades.com.br/as-taxas-de-suicidio-tem-aumentado-durante-a-pandemia-de-coronavirus/ acesso em 12/09/2021 17:45h
Andriani, Ana Gabriela; Aumento de 32% de Suicídios Durante a Pandemia Alerta para a Preocupação com Saúde Mental na Sociedade; (2021) disponível em: https://www.jornalgrandebahia.com.br/2020/07/aumento-de-32-de-suicidios-durante-a-pandemia-alerta-para-preocupacao-com-a-saude-mental-na-sociedade/ acesso e: 12/09/2021 as 19h.
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