1) Fale um pouco sobre a sua formação.
A minha formação é militar de carreira (1977) do Exército e, também, com formação acadêmica em Licenciatura em Educação Física (Escola de Educação Física do Exército). Posteriormente, realizei uma Especialização e Análise de Sistemas (1991) e desde então venho trabalhando na área de TI. Em 1994 ingressei na Academia, tendo concluído o mestrado em Ciência da Informação (Planejamento para o apoio a decisão – 2000) e Especialização em Supervisão Escolar. Desde este período atuei como Coordenador de Curso de Graduação e Licenciatura em TI e Professor Universitário, ministrando todas as disciplinas relacionadas ao desenvolvimento de sistemas, com ênfase em Análise e desenvolvimento, Processos, Projeto. Em seguida passei a trabalhar com ITIL, COBIT e Governança Corporativa, que são as áreas de maior interesse.
2) Atualmente o sr trabalha onde e qual é a sua função?
Estou Coordenando o Curso de Pós-graduação em Business Analytics (BA) da Faculdade Mackenzie de Brasília.
3) O que te levou para a área de TI?
Durante a realização de trabalhos operacionais e administrativos do Exército, principalmente estes, havia um militar, meu auxiliar, que já trabalhava com tecnologia e percebemos a necessidade de automatizarmos o setor. Para isso eu precisava me enquadrar nesse contexto para acompanhar o trabalho que seria realizado. Foi quando fiz o 1° curso básico de TI (1990), sendo apresentado ao Sistema Operacional MS-DOS, ao Windows 3 (recém lançado) e as linguagens de programação C, DBASE e PASCAL. A partir de então não parei mais de estudar e a me aproximar daquilo que o mercado mais usava. Em seguida, fiz o Curso de Especialização em Análise de Sistemas (1991), quando comecei a usar a linguagem COBOL, para equipamento de Grande Porte. Durante todo o tempo trabalhei com máquinas UNYSIS e IBM, sendo o Exército um dos pioneiros no uso do Banco de Dados Oracle. Paralelamente, na Academia, procurava aproximar-me do estado da arte, buscando o aprimoramento nas áreas de interesse, aplicando a programação estruturada e a orientada a objetos, e usando ferramentas mais avançadas (PHP, JAVASCRIPT, C#). Posteriormente, busquei a aproximação com o cenário corporativo procurando o entendimento de ITIL e COBIT para o gerenciamento de serviços de TI, bem como a Governança Corporativa de TI, para entender os processos e garantir que estes estejam alinhados com a estratégia do negócio e agreguem valor para a organização.
4) O que o levou para a sala de aula, ser professor?
Sempre considerei fundamental a troca de informações na busca pelo aprendizado. No momento em que comecei a me dedicar à TI percebi que a melhor forma de me manter atualizado era o estudo e troca, principalmente pela heterogeneidade dos grupos de alunos e muitos deles com elevado conhecimento prático, mas que não tiveram a oportunidade de ingressar e/ou concluir um Curso Superior. Com o tempo descobri que essa era uma das minhas vocações e me senti (sinto) muito gratificado por fazer parte da vida de muitos profissionais do mercado.
5) Como é a sua experiência docente em sala de aula?
Desde 1994 estou em sala de aula. A experiência é muito gratificante, mesmo tendo observado a falta de compromisso de grande parte dos alunos. Entretanto, procuro não associar essa questão somente aos alunos em si. Precisamos criar novas formas de ensinar. Sou favorável à participação integral dos alunos em sala, eliminando ou minimizando a passividade natural. Para isso, as metodologias ativas são fundamentais para estimular as mudanças de comportamento. Com a pandemia os Professores também precisaram se recriar para manter a atenção dos alunos e com isso, a troca se tornou muito maior, embora não haja a presença física.
6) Conte uma experiência que aconteceu contigo em sala de aula.
Durante 25 anos são muitas experiências. Vou me prender a duas que me marcaram muito; uma no início da carreira Docente e outra mais à frente. Sempre procuro aplicar avaliações discursivas e ao final todos os alunos apresentam um trabalho conclusivo da disciplina. Como trabalhei muito tempo com Análise e Projeto, o resultado destes trabalhos era compartilhado por todos. Em uma das Faculdades ministrei aula por quatro semestres para uma aluna, que sempre passava muito mal na hora de apresentar o trabalho final, mesmo quando ele era realizado em grupo. Em uma das vezes, no último semestre, quando era necessário justificar o projeto e fazer o sistema funcionar, essa aluna chegou a pedir o adiamento da apresentação, sendo atendida, mas não foi liberada de fazêlo.
Era um sofrimento sem igual e me sentia mal em ver o desgaste da aluna que, logicamente, era replicado para a turma. O bom disso é que a aluna conseguiu apresentar e obteve a aprovação. Passados três anos deste imbróglio recebo um email da aluna e imaginei que teria ali uma chuva de impropérios. Qual não foi a minha surpresa ao ver que ela havia sido aprovada em um Concurso Público na área de TI e colocando algumas reticências, chegando ao final havia uma pergunta: advinha qual a primeira função/missão que recebi? Fechou o email e mandou outro, começando com “continuando o email anterior”, fui escalada como INSTRUTORA e uma série de rs, rs, rs, rs, culminando com agradecimentos pelas “brigas” e ensinamentos que a fizeram superar um problema que a acompanhava durante toda a vida.
Um outro evento que me marcou muito foi sobre um aluno que ficou reprovado durante três anos no projeto final, mas que continuava se matriculando na disciplina. Fui então verificar a situação do aluno e durante a conversa percebi que o problema era financeiro. Nesta época trabalhava em Unaí e o aluno morava em Paracatu e não tinha condições de ir todos os sábados, pois trabalhava no período da manhã. Consequentemente também não conseguia acompanhar a evolução do projeto (os projetos nessa Faculdade eram individuais). Resolvemos, eu e uma Professora, adotar o aluno de forma que ele pudesse comparecer duas vezes por mês (não vou entrar em outros detalhes). O resultado foi muito satisfatório e o projeto foi aprovado com louvor. Ano seguinte a então CTIS me procurou pedindo para indicar um profissional na área de desenvolvimento, mas com salário abaixo do mercado. Contatei o ex-aluno explicando a situação e este aceitou imediatamente, pois o que recebia em Paracatu ainda era mais baixo. Informei que o custo de vida em Brasília era muito alto e que seria muito complicado para ele e a esposa, mas ele aceitou o desafio. Com quatro meses recebo a ligação da pessoa que o contratou, agradecendo a indicação e me informando que iria dobrar o salário do rapaz. Concluindo, hoje o profissional é gerente de TI de uma grande Empresa, com várias certificações. Já comprou a casa própria, tem um filho e sempre que nos comunicamos percebo a gratidão dele.
Esses são os maiores presentes da área acadêmica ensinando pessoas? O que mais me motiva é a possibilidade de aprender cada vez mais e para que me lembre que sei muito pouco.
8) Baseado na sua experiência como profissional e professor universitário, o que o sr diria para quem almeja uma carreira promissora no mundo da tecnologia?
A área de TI é extremante abrangente e existe espaço para todos. Acompanhar o mercado não significa que a pessoa deve escolher essa ou aquela área. Primeiramente é preciso entender em qual contexto você está e o que pretende? Em todos os artigos, editorias, explicações, papers que estiver lendo os termos serão basicamente os mesmos. Vou me basear em um que achei muito interessante, da Michael Page (https://www.michaelpage.com.br/advice/lideran%C3%A7a-egest%C3%A3o/integra%C3%A7%C3%A3o-eengajamento/perspectivas-para-o-mercado-deti-em-2021) em que fala o seguinte: “2020 foi um divisor de águas para o mercado de TI. O início da pandemia do covid-19 foi crucial para áreas e profissionais de tecnologia, pois acelerou projetos que estavam engavetados há muito tempo ou que não eram prioridade nas empresas. Nesse sentido, muitas delas sofreram para se adaptar rapidamente, já que não estavam preparadas para a alta demanda de TI. A aceleração dos projetos e investimentos em tecnologia obrigou também profissionais de todas as áreas a desenvolverem mais suas habilidades digitais.
A adoção de novas tecnologias, softwares, plataformas, sistemas, automações e máquinas foi necessária para a continuidade das operações, prestação dos serviços, atendimento ao cliente e trabalho remoto dentro da casa dos colaboradores. “Com essa transformação digital nas organizações, a tecnologia passou a estar no centro de desenvolvimento dos negócios”, destaca Luana Castro, Gerente de Recrutamento para Tecnologia na Michael Page, que indica neste artigo os desafios da área para o próximo ano, a demanda de contratação em alta e como os profissionais devem se preparar. Tecnologia é um mercado que já vinha em crescimento nos últimos anos e foi acelerado ainda mais em 2020. “A área, que antes era encarada basicamente como suporte ao business, agora é tida como investimento e desenvolvimento para o negócio”, conta Luana.
É esperado que o profissional seja aquele que conecta a tecnologia às equipes, que conhece do business da empresa, viabiliza o crescimento do negócio e participa das decisões estratégicas. O escopo do profissional de TI vai muito além do suporte às outras áreas, desempenhando um papel de protagonista na linha de frente das soluções de produtos e serviços. “Ele saiu de trás do computador, do backoffice, para ir para o front”, diz Luana. Habilidades voltadas ao negócio, gestão de pessoas e comunicação se tornaram essenciais. Por ser um mercado que só evolui, o profissional de tecnologia deve ter consciência em relação à sua carreira. “É preciso ter cuidado em seguir a demanda de projetos conforme vão surgindo, sem pensar muito no desenho da carreira, se o que está fazendo hoje fará sentido para o amanhã. Há profissionais com muitos cursos e formações que não fazem sentido entre si. Tem tanta coisa nova acontecendo que o profissional acaba perdendo o foco. Não vai faltar oportunidade, então é preciso pensar em que mercado quer estar”, alerta.
Atenção aos desafios:
1. A tecnologia evolui numa velocidade mais rápida do que as pessoas conseguem se capacitar. O profissional de tecnologia deve aprender o tempo todo e os mais preparados para atender as necessidades das empresas serão requisitados. “É muito fácil ficar ultrapassado, por isso a habilidade de autogerenciamento é tão importante para o profissional de tecnologia que quer se manter competitivo”, diz Luana.
2. O domínio do idioma estrangeiro continua sendo uma das maiores dificuldades de acesso a tecnologias de fora. O profissional deve ter foco no inglês para estar sempre alinhado com o que há de mais novo em sua área. “Quem não domina inglês perde muita oportunidade para atuar em outros países”, comenta ela.
3. É preciso aprender a trabalhar em Squads (modelos ágeis de equipes multidisciplinares que atuam por projeto), fazendo contribuições em outras áreas e dando abertura para receber feedback também.
Cargos e setores em alta “Nessa adaptação rápida que as empresas tiveram que passar e com a visão de futuro que temos, houve e haverá troca de profissionais nas equipes e heads de áreas que não estão dando conta de fazer a transformação digital acontecer. A busca está maior para profissionais mais experientes que já entram na empresa entregando resultado. Por serem profissionais sêniores, os salários estão mais altos”, conta Luana.
Cargos em alta:
- engenheiro de dados,
- cientistas de dados,
- diretores de tecnologia,
- CTOs,
- engenheiros de software back, front e mobile,
- especialistas e gerentes em segurança da
- informação e LGPD (muito importante nos dias atuais – grifo meu).
Áreas em alta:
- Engenharia de software e desenvolvimento: estimula melhoria para o negócio e há novas tecnologias o tempo todo para a criação de produtos, soluções, plataformas etc. para back end, front end e mobile app. Neste sentido, o papel de especialista em uma tecnologia só está perdendo espaço. Espera-se menos profissionais especializados e mais daqueles que sejam capazes de olhar para o todo.
- Dados: alto crescimento para business intelligence, data science e analytics. A importância dos dados para o crescimento estratégico e tomada de decisão é tão grande que essa área é a grande aposta para os próximos 2 anos. Muitos profissionais do meio acadêmico e de pesquisa, como matemáticos, físicos e estatísticos, estão migrando para o corporativo.
- Segurança: área que apresentou crescimento em 2020 e virá com ainda mais força no próximo ano por conta do crescimento das operações digitais, serviços na nuvem, entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados e os debates mais aquecidos sobre privacidade.
- Inteligência artificial (inclusão minha):
- IoT (Internet das Coisas) – realidade que já ocupa grande parte das necessidades das Empresas (inclusão minha)
- Design gráfico e de interfaces (necessidade de integrar produtos e serviços de modo harmônico e colocando o cliente no centro do negócio, participando desde a elaboração do projeto até a definição do produto final) (inclusão minha)
- Jogos digitais (saindo da área de entretenimento para todas as áreas de interesse: saúde; engenharia; advocacia; segurança, financeira, etc) (inclusão minha)
- Busca de um nicho de mercado para a criação de startups (inclusão minha).
Setores em alta:
Bancos, meios de pagamento, fundos de investimento, varejo com implantação de soluções digitais, e-commerce, marketplace, logística, consultorias e serviços em geral, além de tudo o que for tech como health tech, fintech, insurance tech, edtech, agrotech etc.
Remuneração e benefícios
Com o trabalho remoto, há cada vez mais posições para o profissional de tecnologia concorrer, inclusive oportunidades fora do país para ganhar em dólar e euro. A remuneração por hora também aumentou devido à terceirização de projetos. Planos de stock option, em que o colaborador pode adquirir ações da empresa, têm sido cada vez mais praticados em startups (muito comum na Europa – grifo meu). Com o mercado aquecido, alta demanda de trabalho e profissionais competitivos, as empresas estão revendo também a flexibilização de benefícios em dinheiro para que o colaborador possa investir em cursos e equipamentos que desejar.
9) Nós sabemos que hoje o nosso normal mudou a forma como trabalhamos. o que o sr acha do trabalho remoto?
A resposta anterior já tem um pouco do cenário em que vivemos. O ano de 2020 foi um processo de aprendizagem e aqueles que relutaram em aceitar a nova realidade ficaram para trás. O que significa isso na área de TI? Foram criadas novas formas de relacionamento e percebeu-se que aquelas reuniões longas e com elevado custo, levando-se todos os executivos para locais paradisíacos e caríssimos, não são necessárias. As decisões podem ser tomadas da mesma forma que uma reunião presencial, desde que seja organizada e tenha um foco.
As ferramentas disponibilizadas possibilitam a integração de todos e facilitam a exposição de ideias. Tornou-se muito mais importante a presença e mais fácil o controle, a proatividade e a busca por soluções e resultados.
Mesmo assim, o trabalho presencial não perdeu a sua importância e em breve voltaremos a nos encontrar, mas desta feita com o espírito mais empreendedor e mais solidário.
10. No mesmo sentido do novo normal, o que dizer quanto ao ensino superior remoto?
Sou favorável ao ensino presencial.
Entendo que os alunos ainda não estão preparados para essa nova realidade, tanto no aspecto da disciplina, quanto da organização e da “endurance”. Da mesma forma, vários Professores sentiram um baque muito grande com as mudanças que se fizeram necessárias, principalmente aqueles avessos à tecnologia. Percebo que isso ocorre com mais ênfase no ensino público.
Além disso, existem profissões em que a participação presencial da aula prática é fundamental (saúde, engenharia de construção; desenvolvimento de produtos, entre várias outras) e várias disciplinas de outras áreas que requerem o contato direto com a máquina.
Creio que reconhecer os Cursos de Graduação e de Pós a distância somente pelo fato de estarmos em uma pandemia, sem critérios muito técnicos e sem ouvir todos os interessados e que trabalham diuturnamente nas suas áreas de atuação, será temerário para a educação e a formação de novos profissionais.
9) Nós sabemos que hoje o nosso normal mudou a forma como trabalhamos. o que o sr acha do trabalho remoto?
A formação “autodidata” não é um padrão. Ela vem com o amadurecimento e com a experiência adquirida ao longo do tempo. Logicamente que após a aquisição da experiência muito se aprende com a leitura baseada em outras experiências, mas que não excluem a aplicação prática.
O “Colégio Invisível” usado por cientistas distantes geograficamente, mas praticamente muito próximos em conhecimento, não ocorre naturalmente. É uma busca incessante pelo conhecimento fruto de resultados obtidos com a aplicação destes conhecimentos.
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Ew Sistemas TI.