1. Como você descreveria seu papel e responsabilidades em projetos de redes e infraestrutura?

Eu sou instrutor oficial de treinamento de um grande fabricante que é líder de mercado, a Furukawa. Meu objetivo é orientar profissionais para serem os melhores e executarem os projetos com a maior performance possível, assim quem ganha é principalmente o cliente que adquire uma solução com maior desempenho, menos manutenção e a prova de futuro. Para obter maiores resultados é necessário primeiramente conhecer o conceito e aplicação de todos os componentes de uma rede, compreender a importância das normas, utilizar as melhores práticas, utilizar procedimentos e testes para garantir a qualidade em todos os projetos e compreender os riscos de executar o projeto de qualquer jeito. Meu outro trabalho já é de desenvolvimento, ajudo a construir novos conteúdos baseados em normas nacionais internacionais para a Furukawa, mas também para a sociedade em geral, sou escritor, tenho 3 livros publicados de gerenciamento de projetos e indústria/sociedade inteligente e mais novos livros que serão lançados neste ano de 2024. Por último também ajudo profissionais de TI com mentorias afim de apoiar nas dúvidas e escolhas para o seu desenvolvimento e crescimento.

2. Qual é a sua experiência específica com cabeamento estruturado, e como isso contribui para o sucesso dos projetos em que você esteve envolvido?

A minha experiência em projetos de cabeamento estruturado é atualmente na orientação de melhores práticas para projetos de infraestrutura de redes. Esta orientação acontece em treinamentos de certificação que são vistos temas como cabeamento de cobre, fibra óptica, gestão de infraestrutura de redes, entre outros. Mas também já atuei na execução de projetos na prática, naquela época o meu objetivo era planejar o projeto e depois executar com base em melhores práticas e baseado em normas. Mas hoje em dia minha missão é na contribuição para o sucesso, construção e orientação de conteúdos de qualidade para orientar profissionais que querem buscar a excelência em seus projetos de redes e infraestrutura.

3. Como você aborda a escolha de tecnologias e equipamentos para melhorar o desempenho da infraestrutura de redes?

A escolha de tecnologias e equipamentos é essencial para o sucesso que qualquer projeto. Infelizmente no Brasil temos uma baixa preocupação e importância no planejamento. Sim, a escolha ideal da tecnologia e equipamento ocorre desde o planejamento, eu pessoalmente já vi que muitas vezes o cliente já decide o que quer instalar, sem falar com especialistas. Tem aqui um ditado de Abraham Lincoln “Dê-me seis horas para derrubar uma árvore e passarei as quatro primeiras afiando o machado.”, esta frase claramente nos diz que precisamos parar para pensar em todas as possibilidades antes de executar e assim trazer a solução ideal, de desempenho, a um custo-benefício muito mais interessante. Então minha dica aqui é, antes de executar um projeto, faça muito bem um levantamento de necessidades e oportunidades do cliente e depois pelo menos uns 3 cenários de entrega de resultado de solução para ajudar o cliente na solução ideal para ele, vai com certeza fazer muita diferença no valor agregado final. Um exemplo aqui, se um cliente tem 300 pontos de rede, qual seria a melhor solução? Fibra óptica ou cobre? É importante fazer uma comparação justa, por exemplo qual seria o valor por cada ponto, qual o custo de manutenção ao longo dos vários anos à frente e se o projeto atende requisitos a prova de futuro, ou seja, que dure mais de 20 anos por exemplo.

4. Poderia compartilhar um projeto desafiador que envolve e como superou obstáculos específicos relacionados à rede e à infraestrutura?

Sim, lembro que em um dos projetos que participei há alguns anos, o objetivo era entender por que a rede estava com baixo desempenho. Então aqui o trabalho não era de execução, mas de consultoria para aumentar a performance, após detectar problemas e gargalos então seria feito melhorias para aumentar o desempenho. Foi utilizado um monitoramento de pacotes de rede por durante 3 dias seguidos, identificado os gargalos (pontos de sobrecarga) e em seguida sugerido melhorias para aumentar o desempenho. Este cliente que pediu este diagnóstico foi um cliente que foi crescendo e não tinha uma boa gestão de infraestrutura de redes, foi possível identificar vários itens fora da norma como especificação de cabos, backbones fora do padrão de necessidade e uma baixa preocupação com a demanda de “taxa de transmissão, bps” de cada ponto. Então a solução para este cliente foi adequar vários pontos para a norma, inclusive refazer a certificação de alguns pontos e atualizar alguns equipamentos como os switches para gerenciar melhor o enlace. A lição aprendida aqui é que o gerenciamento de crescimento deve ser constantemente pensado, não pode ser algo como “cresce e depois vamos ver como fazer”, porque pode ocorrer muitos problemas e custos mais elevados para manter a rede.

5. Qual é o seu processo de planejamento para garantir a escalabilidade e a adaptabilidade dos projetos de infraestrutura de rede ao longo do tempo?

É muito importante pensar no projeto a médio e longo prazo, por exemplo, em um prédio ou construção do cliente, fazendo uma analogia, ele admitiria que você falasse para ele que a tubulação de água é boa mas pode apresentar vazamentos depois de uns 10 anos? Claro que não! Precisamos compreender que um cliente compra uma solução para desempenho, mas também ele precisa ter o melhor ROI (Retorno do investimento), ou seja, precisa “diluir” o valor investido em vários anos ou até décadas. Falando da infraestrutura de redes (cabos ou meio físico), é a parte com menor investimento da tríade (software, hardware e meio físico) e a parte que mais sobrevive ao longo do tempo, então por que não fazer algo bem-feito? Por exemplo, um projeto bem instalado costuma durar 20, 30 anos ou mais. Agora hardwares e softwares não conseguem chegar tão longe, as vezes nem a metade disto. Então é essencial que escolha um meio físico que se adapte a sua realidade e esteja preparado para o futuro.

6. Como você lida com a segurança em projetos de redes e infraestrutura? Que medidas costumam tomar para garantir a integridade e a proteção dos dados?

Quando falamos da segurança em projetos de infraestrutura são mais focamos nas características do meio físico escolhido. A palavra “segurança” está relacionada com estabilidade, livre de perigos, incertezas e riscos eventuais, portanto o melhor meio físico é a fibra óptica porque não sofre e nem gera interferências. Mas não podemos generalizar que todos os projetos serão com fibra óptica, porque depende da necessidade do cliente um meio físico sem fio, de cobre ou de fibra óptica. Falando da fibra, pela sua natureza de transmissão de dados pela “luz” ou “fótons”, não interage com ondas eletromagnéticas e elétrons, se destaca de qualquer outro meio físico pelo seu desempenho e estabilidade. O resultado será um sinal totalmente puro, sem interferência e com o mais alto desempenho. Já a segurança de hardware e software estão mais relacionadas as vulnerabilidades e é essencial que um profissional especializado identifique e corrija estas vulnerabilidades para garantir uma segurança plena.

7. Na sua opinião, qual é a importância do treinamento e desenvolvimento contínuo em um campo tão dinâmico como o de redes e infraestrutura?

A vida é uma evolução constante. Se pararmos no tempo, confiando apenas no que aprendemos há anos, com certeza além de ficar defasado vamos fazer errado algumas coisas porque as melhores práticas também sofrem atualizações com o tempo. Eu já tive alunos que ao aprender sobre as melhores práticas atuais acabaram compreendendo melhor que estavam fazendo errado seu trabalho nos últimos 10 ou 20 anos e isto é o pior que pode acontecer para um profissional porque é ele que deve ser a referência técnica para a execução de um projeto. O cliente confia nele, uma frase aqui: “o cliente confia ou não confia”, é 1 ou 0, é binário, então se o cliente começa a desconfiar da execução do projeto ou ele não vai lhe contratar mais ou vai ser uma relação muito difícil se realmente executar este projeto. Quando um cliente confia, gosta e acredita que aquele profissional ali é referência na área, todo o projeto é mais tranquilo, sem estresse para ambos. Então a importância do treinamento aqui é para manter esta relação de confiança com o cliente, diagnosticar rapidamente algum problema, solução e para entregar projetos de qualidade. Lembro também que geralmente a cada 4 anos as normas sofrem atualizações e pelo menos nestes períodos de mudanças precisamos deste desenvolvimento contínuo.

8. Como você avalia e seleciona os fornecedores de produtos, especialmente em relação às marcas específicas como Furukawa?

Se eu fosse selecionar uma marca eu primeiramente procuraria saber se a marca tem qualidade de produtos, como está a sua reputação no mercado (clientes satisfeitos), depois se a marca possui um pós-venda para no caso de precisar de algum apoio técnico e por último verificaria o valor agregado do produto porque tem produtos que entregam muito mais que o básico e este valor a mais é necessário conhecer para que o cliente entenda que o produto entrega mais e tem mais qualidade que a média. 

9. Quais são as tendências emergentes que você vê no campo de redes e infraestrutura, e como você se mantém atualizado(a) sobre essas mudanças?

Algo inevitável será o avanço da IoT (Internet das coisas) em tudo que fazemos, até uma simples lâmpada pode vir com uma conexão em rede para controle e para uma maior inteligência e uso. Precisamos estar atentos as inovações relacionadas aos dispositivos IoT e inteligência artificial associada aos produtos, também precisamos compreender que a fibra óptica veio para ficar e é um caminho sem volta, um meio físico muito eficiente e atualmente com baixo custo. Precisamos também prestar atenção que o Brasil esteve muito atrasado na gestão de projetos nos últimos anos e esta área é a que ajuda a entregar os projetos mais alinhados ao cliente, essencial para ter mais sucesso.

10. Como você aborda a colaboração e comunicação eficaz com outros membros da equipe, clientes e partes interessadas ao liderar ou participar de projetos de infraestrutura de rede?

A comunicação eficaz em projetos é responsável por pelo menos 50% do sucesso em projetos. Sou professor de pós-graduação e esta área de gestão de comunicação é um dos módulos que leciono. É essencial associar a comunicação entre pessoas como se fosse um processo de comunicação na área de redes: temos o emissor, o canal e o receptor (na rede seria, o hardware, meio físico e hardware respectivamente). Os principais problemas do emissor (quem está falando por exemplo) são diferenças culturais, timidez, medo de falar bobagem, falta de carisma e falta de interesse, então não podemos deixar isso atrapalhar quando você está tentando transmitir uma informação. Também para o receptor (quem está ouvindo) não pode deixar que fatores como pouco interesse, ideias pré-concebidas, distração, agir na defensiva possam atrapalhar a comunicação. Algo também muito importante é saber que as pessoas são diferentes e se você compreender os quatro tipos básicos de pessoas (Comunicador, Executor, Planejador e Analista) e saber lidar com as diferenças terá muito mais sucesso. Também é importante compreender que algumas vezes um conflito pode ser a chave para resolver um problema, basta saber gerenciar este conflito (exemplos: não confrontação, evitar, acomodar, integrar, dominar ou compromisso). E não podemos esquecer das partes interessadas do projeto, quais são os seus reais interesses, grau de poder e seu papel na parte do projeto como (responsável, autoridade, consultado, informado). Em suma, a gestão de projetos é essencial para deixar o cliente satisfeito, para alcançar os objetivos do projeto e transmitir aquela imagem que além de você ser referência da área técnica, ainda sabe ser organizado e responsável com as entregas para o cliente.

Juliano Heinzelmann Reinert é mestre em Engenharia de Produção com foco em inovação, especialista com MBA FGV em Gerenciamento de Projetos, graduado em Automação Industrial, também possui certificações em gestão e TI: CCTT, COBIT, Data Cabling System MCT Fluke, FCP Professional, FCP Fibras Ópticas, FCP Master, IAPM. Sua vivência profissional inclui 23 anos de experiência: gerenciamento de projetos, projetos de infraestrutura de TI, consultorias em empresas, estratégias financeiras, instrutor Furukawa, professor convidado da FGV. Sua experiência internacional é focada nos E.U.A e Alemanha com visitas, atuação e treinamentos em: IBM, Nortel, Porsche, BMW, Mahle, AMK, Hannover Messe, Paulaner, Jena e Braunschweig University. No Brasil já atuou em várias indústrias, também no CNJ, FIESP, PRF, CREA, DSOP, ACIJ, ACIJS e publicações em revistas. Atualmente é instrutor e produtor de conteúdo para Furukawa Electric Co (Instrutor homenageado nos 20 anos do IFT), consultor em indústria x.0, professor de pós-graduação em várias instituições, parceiro das empresas Softsell, Fenômenos aprendizagem, Diretor da H&R Management, Sócio da Bauwerk. É autor de 3 livros: “Projetos de infraestrutura de TIC”, “Gerenciamento de projetos de Inovação e P&D” e “Brasil: Podemos evoluir da indústria 4.0 para a Indústria e Sociedade 5.0?”, pioneiro no Brasil com o tema “Sociedade 5.0”. Atleta amador de ciclismo, maratona 42K e meia maratona.

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