Todos devem estranhar os atuais tempos, onde tudo que outrora era considerado como um traço da personalidade de um ou outro ser humano, agora é um tipo de transtorno psicológico, será que estão querendo “passar pano” para que algumas situações sejam aceitas e/ou normatizadas?
Acontece que antes tínhamos bastante estudos sobre situações bem complexas que de cara já era taxado como transtorno psicológico, e em algumas outras situações, o transtorno estava lá embutido, mas não vinha à tona de uma maneira que fosse possível entender como ele é, afinal, por que aquela pessoa age daquela maneira? O que a levou a agir assim?
Cada situação tem uma causa e uma consequência, isso é sabido por todos, mas quando a causa está mascarada e/ou camuflada no íntimo de uma pessoa, no seu inconsciente, e a mesma, não conversa sobre, esconde, retruca quando é indagada, e usa como escape ou fuga do problema em questão. Se formos a fundo, logo descobriremos ali o que transformou esta pessoa no que ela é hoje, todos os processos psicológicos estão enraizados desde a sua infância, e construíram de forma latente tudo que ela é atualmente.
Aqui no Ceará devido um personagem folclórico que tivemos entre nós ainda em vida até bem pouco tempo, caso do Sr. Joaquim dos Santos Rodrigues (1927-2014) o famoso Seu Lunga, natural de Caririaçu, que residia em Juazeiro, apesar de ser poeta, repentista, também era comerciante no ramo de sucatas, ficou famoso pelas suas respostas sempre de maneira grosseira, e a falta de sutileza e gentileza eram bem peculiares nele.
No vocabulário cearense “o cabra era ignorante”, não por desconhecer as coisas, e sim pela forma de tratamento que dava as pessoas, principalmente quando chegavam com perguntas que pra ele, poderiam ser tidas como desnecessárias ou sem fundamento algum, virou até personagem nos cordéis nordestinos.
Logo todas as suas respostas começaram a ser repetidas por populares, e viraram até quadros de programas humorísticos locais, na Tv Diário de Fortaleza no Ceará é possível ver diariamente no programa “Nas Garras da Patrulha”, também sendo vista em apresentações humorísticas entre outras coisas por todo o Nordeste.
Mas dentro de todo este contexto, porque as pessoas ficaram mais agressivas, mais brutas, grosseiras, sem empatia alguma e aboliram de seu tratamento social a gentileza, sutileza, delicadeza e educação, que deveria estar sempre presente nas relações interpessoais, e assim como nos pessoais também, sendo que elas agem assim em qualquer ambiente que estejam.
Hoje vemos discussões tão banais, não existindo preocupação com mais nada para que isso aconteça, não se preocupam com local, ambiente, faixa etária, não existindo mais consciência e nem respeito por quase nada, e isso não é algo visto apenas em um tipo de classe social, acontece corriqueiramente.
Estas discussões geralmente se dão início por um tratamento dado por uma pessoa a outra de maneira mais ríspida, e ao perceberem estão muitas vezes chegando as vias de fato, quando não acontece coisa muito pior, nos últimos tempos a raiva e o ódio foram tão disseminados, que estão enraizando entre os corações e mentes de muitos, o homem não consegue mais viver em sociedade? Ainda é possível contornar estas situações? A paz ainda é possível?
São crimes hediondos acontecendo quase todo dia, por motivos torpes como é o caso do feminicídio, homofobia, transfobia, gordofobia, infanticídio, pedofilia, aporofobia, violência contra os idosos, até pelos familiares e ou cuidadores, muitas discussões começam por razões políticas, partidárias e sociais.
Começamos a ver execuções sumárias cometidas por adolescentes em pessoas aleatórias, algo que nunca ousamos nem pensar que aconteceria no Brasil. Parecíamos que vivíamos numa bolha, e que tais atrocidades não chegariam aqui nosso território. O que estamos vivendo hoje? Um caos absoluto ou uma inversão de papeis?
Será que alguns viraram Deus e não foi avisado a ninguém? Ou foi dado a alguns o direito sobre a vida de outros? Pode-se dizer que estamos sendo vítimas de uma selvageria urbana? Ou aprendemos e estudamos tanto para nada? Ou a laranja mecânica se inverteu?
No romance Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) escrito em 1962 por John Anthony Burgess Wilson (1917-1993) que virou filme em Hollywood em 1971 pelas mãos de Stanley Kubrick (1928-1999), o sociopata Alex, é membro de uma gangue de amigos muito violentos, briguentos e arruaceiros, ao ser capturado, é submetido a um tratamento psicológico para mudar seus pensamentos e ações, e assim poder voltar a sociedade.
Depois da pandemia estamos vendo todo tipo de transtorno ser aflorado, potencializado e mais discutido dentro dos ambientes sociais, políticos, é certo que a saúde mental das pessoas ficou muito abalada com este tempo incomum que vivemos, e que depois de ficarmos trancados em casa, sem trabalhar como antes, com as crianças sem irem ao colégio, todas as mazelas das relações familiares e interpessoais foram expostas.
Foi como se tirassem o véu que cobria todas essas coisas, e assim se viu romper a linha tênue que tinha entre a sanidade e insanidade que só poderia estourar nas relações, ficamos mais ansiosos, depressivos, desenvolvemos síndromes de pânico, entre outros tantos transtornos psicológicos.
A Distimia é o transtorno que aborda a irritabilidade, mau humor, baixa autoestima, desânimo, tristeza, depressão, com predominância de pensamentos negativos, ela tem como causa uma depressão crônica de moderada intensidade, o diferencial é que ao contrário da depressão a distimia não se instala de repente, não é nada tão brusco assim.
As pessoas que tem o transtorno de distimia geralmente são pessoas que tem dificuldades de relacionamento, e com o transtorno potencializam as outras vias, como: a baixa autoestima, senso elevado de autocritica, vivem sempre irritados e reclamando de tudo, nunca enxergam nada de positivo nas situações em que vivem ou são inseridos, além de tudo isso elas também podem desenvolver:
- Desânimo
- Pessimismo
- Tristeza
- Alterações de apetite e de sono
- Isolamento social
- Falta de energia para agir
- Tendências para uso de drogas, como tranquilizantes, álcool, e até as ilícitas.
A pessoa demonstrando estes sintomas por pelo menos dois anos, deve ser encaminhada para acompanhamento clínico e terapia. Geralmente as pessoas que estão com distimia não se dão conta do próprio problema, acham que tudo que sentem fazem parte de sua personalidade e o jeito peculiar como veem o mundo, nunca aceitam ajuda e acham que não precisam de ajuda alguma.
Correr atrás de ajuda é fundamental, afinal, é constatado que cerca de 15 a 20% de quem desenvolve o transtorno tentam o suicídio. Geralmente a distimia é mais comum nas mulheres, pode-se perceber na infância, mas é mais prevalente na adolescência, na fase adulta e nos idosos quando acontece, provavelmente já teve na infância e passou despercebido.
Fique atento as crianças, este transtorno pode estar camuflado, e você pode policiar ao perceber um baixo rendimento escolar, comportamento antissocial, agressivo, ansioso, irritado constantemente, sem controle, já é um sinal de alerta, isso não é normal.
Muito se pode dizer do tratamento para distimia, mas ela requer acompanhamento clínico que é indispensável, o psiquiatra vai prescrever os fármacos a serem tomados e acompanhar o desenrolar do tratamento, além do lado clínico é preciso que seja feito terapia com psicólogo, mas um complementa o outro.
Embora os antidepressivos apresentar bons resultados no tratamento, a terapia pode ajudar para que a pessoa aprenda a reagir, e trilhe o caminho para vencer as barreiras que ela mesmo impôs para as relações interpessoais, quebrar estes paradigmas e mudar de comportamento, suas limitações orgânicas não podem vencer esta batalha interna. Os medicamentos ajudam a corrigir o problema e a terapia a reaprender e criar formas de relacionar-se.
Não subestime os sintomas da distimia. Não atribua ao envelhecimento, e as queixas de quem envelheceu, nos casos de pessoa idosa. Nem nas outras faixas etárias é normal ser assim, precisa enxergar os detalhes e procurar ajuda o quanto antes.
REFERÊNCIAS:
BRUNA, Maria Helena Varella. Distimia. Brasil, 2022. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/distimia/ Acesso em 21/01/2023 às 10h.
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