Hoje percebemos o crescimento de mais um tipo de adoecimento mental, ele é um pouco difícil de ser definido, não é tão recente, mas só agora foi batizado com um termo, ele se chama Languishing, definhamento.
Creio que por se completar com vários outros tipos de sensações e sentimentos comuns em alguns outros transtornos, houve está demora dele ser definido, o Languishing é muito confundido com a Síndrome de Berout, além de ter outros aspectos que lembram a Depressão e a Síndrome de Bournout
Mas tem uma conotação bem peculiar, que é a sensação de vazio, de estagnação, de que apenas existe, entrelaçados com um sentimento entorpecido, de desligamento, de estar no mundo da lua, desânimo, sensação de carregar um peso invisível, cansaço, dificuldade de concentração, tédio, baixo rendimento, coração apertado, respiração difícil e uma persistente apatia.
O Languishing quer dizer definhamento, enfraquecimento, decadência, empobrecimento. Alguém definhando algum tempo atrás diríamos que a pessoa apenas estava emagrecendo rapidamente, hoje, podemos dizer que ao definhar a pessoa também está se entregando as dores emocionais e com isso sua saúde mental está provavelmente a beira de um colapso.
Este novo fenômeno psicológico, teve agora durante a pandemia de covid-19 um grau de potencialização bem elevado, fazendo com que as pessoas entrassem num tipo de limbo mental, e assim começou a ser mais percebido.
O termo Languishing foi nomeado pelo psicólogo e sociólogo americano Corey Keyes (1962) muito conhecido pelo seu trabalho com a psicologia positiva, tornou-se mais popular ainda quando foi citado pelo psicólogo organizacional e colunista Adam Grant (1981) do jornal The New York Times.
Corey em seus estudos criou duas escalas dentro do método de psicologia positiva, a escala do prazer e a escala do funcionamento positivo, o baixo nível atingido em duas das escalas de prazer e em seis das 11 escalas de funcionamento positivo vai indicar que o processo em que a pessoa se encontra emocionalmente é de definhamento, estando com nível satisfatório a pessoa estará em florescimento.
Os muitos reflexos desta época pandêmica sobrecarregaram em demasia o psicológico de muita gente, afinal como processar tantas informações, diferencia-las de fake news, e conviver com clausura, lockdown, impotência, luto, desemprego, empresas fechando, demora na vacinação, negacionismo, situação econômica, alta de preços, falta de produtos, falta de matéria prima, ociosidade, distanciamento, endividamento, falta de engajamento, medo e sensação de desamparo, entre tantas coisas que tivemos que passar e ainda estamos passando por causa deste vírus.
Nosso cérebro já estava com sinal de alerta ligado, e tão logo entrou em versão light, quando voltou uma nova onda que se espalhou muito rapidamente, ele religou o sinal de alerta, se retirando da versão light.
O Definhamento não é uma doença, mas um estado emocional que se não tratado pode evoluir e se tornar uma patologia grave como a Depressão, é possível ver a pessoa afetada por este fenômeno ficar 1 até 3 dias desanimado e triste, estas sensações ficam tomando conta do cotidiano do indivíduo.
Nos últimos anos foi estabelecido gradualmente algumas mudanças no conceito de saúde mental. Com isso a OMS – Organização Mundial de Saúde passou a defender que a falta de patologias não impede que um adoecimento não seja considerado um fator de saúde mental.
O trabalho de profissionais de saúde no esforço para identificar, medir, e estudar, que fatores estão por detrás da presença, ou, ausência, de vertentes mais positivas do funcionamento humano, como por exemplo, o bem-estar.
Com a sensação de alma vazia, o corpo busca se encontrar, não se sente, não se vê e nem se percebe faz muito tempo, uma luta cansativa mesmo muitas vezes nem saindo do lugar que estava, mas ainda assim parecia ter percorrido uma maratona.
Em muitos momentos da vida desanimamos, é até normal, o ruim é quando o desânimo se instala e começa a lhe vencer, te deixando apático, abatido, definhando, sucumbindo, retirando de você suas forças e minando suas energias, e mesmo que aparentemente esteja tudo dentro da normalidade, você tenha emprego, família, compromissos, boletos estejam pagos, nada o mobiliza, o conforta, o incentiva a buscar, lhe falta a ambição e vontade de antes.
Em seu início este adoecimento pode até não afetar na rotina da pessoa, mas é perceptível sua falta de ânimo, tornando os dias difíceis e as coisas feitas no automático, as tarefas podem até serem cumpridas, realizadas, mas de uma maneira sem entusiasmo algum.
O termo deste fenômeno é novo, denominado agora durante a pandemia, mas se trata de uma condição bem antiga, algo que sempre afetou muitas pessoas, mas que passava despercebido, a filosofia existencialista já percebia essa condição.
A psicologia começou a estudar este adoecimento há algum tempo, mas só agora nesta pandemia que deram mais ênfase nesta apatia e sensação de vazio que foi muito potencializada, deixando milhares de pessoas pelo mundo vítimas desta condição.
Isso pode vir a ocorrer quando os eixos fundamentais são comprometidos:
Eixo 1: Se refere a compreensão de si, as regras e os determinantes de sua própria vida.
Eixo 2: Se refere as ambições e propósitos, e os valores.
Eixo 3: Se refere a importância que destinamos ao nosso papel e desempenho na sociedade.
Segundo o professor e psicólogo clínico Thales Coutinho, em momentos de crise, como a que vivemos atualmente, os sensos de propósitos e significância tendem a ficar prejudicados. Ele também aconselha que seja estabelecido um reforçamento do Self, buscando com isso a imagem psicológica que fazemos de nós mesmos, este exercício de reforçamento psicanalítico, pode trazer benefícios e contribuir na concepção do sentido de vida que precisamos ter.
Outra Psicóloga especialista em Languishing é Renata Borja, ela salienta que é normal se sentir mal, não estar alegre o tempo todo, que o ideal de obrigatoriedade de felicidade constante pode até se torna prejudicial também, nos deixando sem a capacidade de lidar com as coisas ruins, negativas, e que são de ordem natural, afinal, pode acontecer.
Segundo Renata devemos evitar os excessos de telas a noite, ter um sono tranquilo, manter atividades físicas, organizar a rotina estabelecendo metas razoáveis e realistas, meditação, fé e espiritualidade, tentar incluir como tarefa fundamental que é se preocupar e cuidar de alguém próximo, pois quando cuidamos de alguém também cuidamos de nós mesmos.
Segundo a Dra. Christiane Ribeiro médica psiquiatra, é importante recomeçar as tarefas que ficaram paralisadas neste período, buscar relembrar e realizar os prazeres de antes, ou ir em busca de novos que o reconforte, manter contato com pessoas queridas e importantes.
Ao perceber que alguém de seu convívio esteja com estes sintomas, oriente para que inicie com sessões de terapia, um psicólogo pode ajudar no enfrentamento deste adoecimento, e com isso evitar que se agrave e discorra para uma patologia mais severa como a depressão.
Evite comentários desnecessários tipo: “mas você tem emprego, carro, casa, família, está tudo bem financeiramente, o que te falta ainda?”, não pense que se trata de mimimi, o efeito pode ser reverso e além de não ajudar, pode servir de gatilho para que o adoecimento venha a se patologizar, o Languishing não está catalogado como um transtorno psiquiátrico, e traz com ele vários sintomas atrelados a outros transtornos como depressão, a síndrome de bournout e a síndrome de berout.
Em suas pesquisas Corey Keyes constatou que daqui há 10 anos quem está sentindo o definhamento hoje poderá estar sofrendo de depressão e ansiedade severas, é tudo muito lento, mas este adoecimento é o ponto de partida para a patologia depressiva no futuro, temos que cuidar logo.
Para Adam Grant na psicologia se o florescimento é o pico mais alto do bem estar, onde você tem todo o domínio necessário e o senso de significado para todos que lhe cercam, e a depressão é o pico mais alto do mal estar, quando você acha que não tem valor para nada e nem ninguém, o Languishing é o filho do meio, por hora negligenciado em se tratando de saúde mental, você não está a pleno vapor, não funciona como deveria, não tem os sintomas de doença mental, mas também não é a imagem de saúde mental possível.
É certo que ainda vivemos em um mundo estigmatizado pelo senso comum onde é normal se cuidar da saúde física e esquecer da saúde mental, precisamos repensar este conceito de saúde mental e bem-estar, já passou da hora. Com isso também precisamos acabar com estigma contra a psicologia, contra a terapia.
Segundo Christiane Ribeiro a quarta onda da pandemia vai afetar a saúde mental das pessoas, e não estamos preparados para a chegada desta quarta onda, afinal os profissionais de psicologia ainda são poucos e não temos como deveríamos ter em todas as unidades de saúde.
E quando se consegue a primeira sessão com um psicólogo pela rede pública de saúde, marcar o retorno em data próxima é quase impossível, o retorno sempre fica em data muito distante, inviabilizando o tratamento.
A terapia precisa ser mais viável, sem ela todas as sensações do adoecimento da pessoa por falta de continuidade, ou de início dela não vai ajudar no tratamento. Além disso tem os desistentes, que inicia, mas não dão continuidade por este mesmo motivo ou outro qualquer e isso dificulta ainda mais.
COMO SE MOTIVAR?
- Agir como se estivesse motivado:
O cérebro é quem tem o controle de suas emoções, engana-lo pode aumentar suas motivações, se pergunte o que você estaria fazendo caso não tivesse assim, crie tarefas e tente sair da inercia, e pode mudar seu estado de espirito.
- Pensamentos positivos:
Os pensamentos negativos não devem lhe dominar, substitua por pensamentos positivos, se achar que vai falhar ou desistir de realizar uma tarefa, mentalize nas coisas que podem fazer dar certo, equilibrando as motivações vai ajudar na sua rotina.
- A regra dos 10 minutos:
Se for uma pessoa que costuma procrastinar, talvez não dê certo, então inicie uma tarefa para ser completada em 10 minutos, quando atingir o tempo pergunte a si mesmo se quer continuar, vai perceber que o mais difícil é iniciar, depois disso fica mais fácil terminar a tarefa.
- Recompensar por tarefa concluída:
Com recompensas por conclusão de tarefas realizadas, você conseguirá se motivar novamente e dentro em breve irá atingir suas metas. Trabalhe durante uma hora e depois se permita olhar as redes sociais por cinco minutos. No entanto, não deixe essas recompensas sabotarem os seus esforços.
- Coloque pequenos prazeres nas tarefas chatas:
Coloque diversão a algo que não estás motivada a fazer: Ouça música enquanto corre, telefone para um amigo enquanto limpa a casa, saia para comer num bom restaurante. Mas não deixe que a diversão afete seu desempenho.
- Cuidar-se:
Uma dieta mal elaborada, não dormir direito, não ter nenhum tempo livre prejudica e muito na motivação. Portanto, criar um plano de autocuidado e fazer exercícios físicos regularmente é necessário. Beber água e manter uma dieta saudável, ter tempo para o lazer e a diversão, passar tempo com pessoas queridas.
- Busque fazer uma terapia com um psicólogo:
Se mesmo após seguir esses passos a desmotivação persistir, procure a ajuda de um psicólogo, ele será capaz de avaliar se a apatia e o desânimo estão relacionados com quaisquer problemas de comportamento e as questões que perpassam a vida do ser humano, visando compreender os sentimentos, as emoções, as impressões e outras questões inerentes a uma pessoa.
A filosofia tratou deste sentimento e sensação de vazio dentro do Niilismo Existencial, um pensamento da corrente francesa da filosofia existencial de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus entre outros, segundo eles a vida é baseada no nada, não possuindo nenhum sentido, assim como nenhum significado e nem propósito, e cabe a nós aceitarmos esta condição, e somente nós somos responsáveis pela construção da própria existência.
Já Nietzsche definia que o niilismo é, quando os valores mais altos se desvalorizam, faltando a finalidade, faltando a resposta aos “por quês”, atrelando a ausência de sentidos com o conceito de super-homem, sustentando que a existência humana não tem, objetivamente qualquer significado nem proposito essencial.
REFERÊNCIAS
Bessas, Alex. Languishing: Uma Apatia que Toma Conta do Cotidiano. Jornal O Tempo, Belo Horizonte – MG. 17 de junho de 2021. Disponível em: https://www.otempo.com.br/interessa/languishing-uma-apatia-que-toma-conta-do-cotidiano-1.2499888 Acesso em: 02/03/2022 às 22h
Marausciulo, Marilia. Languishing: Saiba se Você Está Passando Pelo Definhamento Emocional. Revista Galileu. Rio de Janeiro – RJ. 15 de novembro de 2021. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2021/11/languishing-saiba-se-voce-esta-passando-pelo-definhamento-emocional.html Acesso em: 02/03/2022 às 23h
Monteiro, Lilian. Entenda o Languishing: Entorpecimento da Vida e Sensação de Vazio. Jornal O Estado de Minas. Belo Horizonte – MG. 30 de janeiro de 2022. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/bem-viver/2022/01/30/interna_bem_viver,1340561/entenda-o-languishing-entorpecimento-da-vida-e-sensacao-de-vazio.shtml Acesso em: 05/03/2022 as 13h
Menezes, Pedro. Niilismo. www.todamateria.com.br, (2022) Disponível em : https://www.todamateria.com.br/niilismo/ acesso em 06/03/2022 as 11:30h
Flourishing versus Languishing: Quando a Ausência de Psicopatologia não é Sinônimo de Saúde Mental. Clínica de Saúde Mental do Porto. Porto – Portugal, (2022). Disponível em: https://www.clinicadesaudementaldoporto.pt/pt/pagina-do-doente/flourishing-vs-languishing/quando-a-ausencia-de-psicopatologia-nao-e-sinonimo-de-saude-mental/ acesso em 06/03/2022 as 12h.
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