PARTE II

“A auto fobia é o medo de ficar sozinho, medo da solidão. Além disso, é uma fobia específica do isolamento: a pessoa tem medo de ser egoísta, estar só e isolada. Quem tem essa fobia não está necessariamente sozinho, mas só de pensar que está sendo ignorado ou abandonado é motivo para desencadear os sintomas”. (CALÓ, 2019)

Mas para o idoso o abandono tem um misto de vários sentimentos, sensações e dores, traz para o idoso, saudade, solidão, tristeza, desprezo, angústia, e em alguns casos desencadeia transtornos como ansiedade, depressão, síndrome de bournout, síndrome de pânico.

Segundo MENDES, GUSMÃO, FARO & LEITE, 2004, “Em todas as fases da vida a família exerce uma importância fundamental no fortalecimento das relações, embora muitas vezes a família tenha dificuldades em aceitar e entender o envelhecimento de um ente, tornando o relacionamento familiar mais difícil. 

O indivíduo idoso perde a posição de comando e decisão que estava acostumado a exercer e as relações entre pais e filhos modificam-se. Consequentemente as pessoas idosas tornam-se cada vez mais dependentes e uma reversão de papéis estabelece-se. Os filhos geralmente passam a ter responsabilidade pelos pais, mas muitas vezes esquece-se de uma das mais importantes necessidades: a de serem ouvidos. Os pais, muitas vezes, quando manifestam a vontade de conversar, percebem que os filhos não têm tempo de escutar as suas preocupações”.

            Em muitos casos a família abandona o idoso já dentro de casa mesmo, chamamos de abandono afetivo inverso, isso já define a violação dos direitos e obrigações dos filhos e/ou família com o idoso (a), tendo as atitudes cometidas pela família tais como: isolando, não lhe dando a atenção necessária e os cuidados precisos, destratando, excluindo, ignorando, o abandono é hoje um dos fatores que levam os consultórios e clínicas estarem cada vez mais lotados, e o abandono ainda pode ser pior quando o idoso (a) é enfermo e acamado, precisando de cuidador e ou enfermeiro.

            Em outros casos a família abandona o idoso nas entidades de longa permanência, antes chamadas de asilos, e/ou clínicas de repouso, e/ou clínicas geriátricas, somente em casos excepcionais quando realmente é comprovado que a família não dispõe de recursos e/ou condições para dar a assistência ao idoso (a) como é necessário, a justiça pode determinar o encaminhamento, mas aqui falamos do abandono, onde o idoso (a) é deixado nestas entidades e lá eles não voltam nem para um visita que seja, apenas esquecem da existência.

“O processo de envelhecimento humano é caracterizado por uma notória mudança em todo corpo. Dessa forma, a população idosa, necessita de cuidados especiais, que garantam uma ótima qualidade de vida e bem-estar. No entanto, no contexto social contemporâneo, o número de pessoas idosas vem crescendo, consideravelmente, e por consequência, muitas delas acabam sendo abandonados. Assim sendo, cabe analisar os fatores motivadores que levam o desamparo desses indivíduos, bem como, a falta de recursos financeiros e a ausência de responsabilidade dos filhos”. (REDAÇÂO ONLINE, 2022)

Cerca de 36% dos idosos que estão vivendo em entidades de longa permanência perderam completamente os vínculos parentais, não recebem mais visitas dos familiares e nem notícias. 

Violência para a OMS – Organização Mundial de Saúde significa o uso intencional de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio ou a outra pessoa.

Segundo a ONU – Organização das Nações Unidas diz que existem 3 (três) tipos de violência, sendo elas, violência auto infligida, violência interpessoal e violência coletiva. Não existe algo que explique o por que um indivíduo é violento, se entende apenas que a violência é o resultado de fatores como: sociais, culturais, ambientais, relacionais e individuais. 

            Hoje os idosos sofrem com a violência doméstica, atitudes violentas cometidas com uso da força física, por filhos, filhas, genros, noras, netos, netas e até de cuidadores contratados para zelar e proteger estes idosos. A violência doméstica acontece muitas vezes de forma explicita, mas também existe ela de maneira velada no contexto familiar, sabem mas nada fazem, não tomam atitude alguma. 

Algumas famílias com um pouco mais de condições financeiras contratam um cuidador profissional para que exerça junto com seu idoso a função de cuidar e proteger, mas são surpreendidos por ações praticadas pelos cuidadores contra os idosos, ações com uso de violência física e até violência verbal e psicológica.     

            Em outros casos, a violência parte da própria família, e se estende também para a violência patrimonial e financeira em muitos casos, os idosos são extorquidos pelos mesmo familiares que deveriam proteger e cuidar, muitas vezes gastam toda a aposentadoria do idoso, que serve para pagar os remédios e em alguns casos plano de saúde do mesmo e o deixam sem as suas provisões necessárias para custear a sua manutenção.

            A violência no espaço intrafamiliar é muito complexa e delicada, o silêncio das famílias do idosos violentados é algo muito difícil de ser dialogado, existe fatores para o silêncio que são muito pertinentes, como a insegurança, o medo de represálias, os conflitos com a consanguinidade, instinto de proteção ao agressor pelo afeto, pelo amor, pela proximidade.

            Os idosos acima de 60 anos já são mais de 13 milhões de indivíduos da população brasileira, o que torna os problemas de violência e abandono que eles sofrem um fenômeno que deve o quanto antes ser percebido pela sociedade, pelo poder público.

            Aos idosos em situações de abandono e/ou violência além de cuidados com sua saúde física, é preciso também cuidar da saúde mental destes indivíduos, os traumas que sofreram pode desencadear vários transtornos psicológicos e com isso dificultar seu bem estar e suas relações, um acompanhamento psicoterápico deve ser destinado ao idoso nesta situação o quanto antes, afinal tudo que ele mais querem na vida é ser ouvido, compartilhar com as pessoas que o cercam toda suas histórias, sua vivência, e nestes casos em específico eles precisam falar de suas dores, medos e frustrações.   

REFERÊNCIA

CALÓ, Fábio Augusto. Auto fobia: Medo da Solidão. Brasília – DF. 2019. www.inpaonline.com.br Disponível em: https://inpaonline.com.br/blog/autofobia/  acesso em 07/07/2022 às 12h.

Estatuto do Idoso com a Lei 10.741 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm acesso em: 29/06/2022  às 13h.

FIGUEIREDO, Adma Hamam de. Brasil: Uma Visão Geográfica e Ambiental do Início do Século XXI. 2016. Ed. IBGE 

MENDES, M. R. S. S. B; GUSMÃO, J. L. de; FARO, A. C. M. e; LEITE, R. de. C. B. de O. A situação do Idoso no Brasil: Uma Breve Consideração. São Paulo – SP. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/9BQLWt5B3WVTvKTp3X8QcqJ/?format=pdf  acesso em: 07/07/2022 às 13h.

MINAYO, M. C. de S. Violência Contra Idosos: Relevância Para Um Velho Problema. Rio de Janeiro – RJ. 2002. www.scielo.br Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/RqXm785ywkK9dYxTwMvfmXz acesso em 06/07/2022 às 10h. 

Nascer Velho, Morrer Criança por Chico Anysio. Rio de Janeiro-RJ. Programa Fantástico. Rede Globo de Televisão. 1 vídeo de 4:39 minutos. 1977/2012  Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kt8g7XcLjQQ acesso em: 07/07/2022 às 11h.

O Abandono de Idosos no Brasil. Florianópolis – SC. 2022. www.redacaoonline.com.br Disponível em: https://redacaonline.com.br/temas-de-redacao/o-abandono-de-idosos-no-brasil/20220430464470 acesso em 07/07/2022 às 14h.

OLIVEIRA, Nielmar. IBGE: Expectativa de Vida dos Brasileiros Aumentou Mais de 40 Anos em 11 Décadas. Brasília – DF. 2016. www.agenciabrasil.ebc.com.br. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-08/ibge-expectativa-de-vida-dos-brasileiros-aumentou-mais-de-75-anos-em-11  acesso em 07/07/2022 às 10h.

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