Não existe uma confirmação que seja coerente quanto ao local onde o dinheiro foi criado, alguns relatos falam na Grécia, e outros na Lídia (atual Turquia), mas ambas por volta do Século VII a.C. (Antes de Cristo), antes da invenção do dinheiro qualquer bem era moeda de troca, couro, peixe seco, sal grosso, tabaco, entre outras coisas. Quando era de interesse de alguém um item que pertencia a outra pessoa, ela oferecia ao proprietário do seu alvo de desejo um item que ele tinha para usar como moeda de troca. O dinheiro na forma de cédulas que hoje conhecemos e carregamos na carteira não existia ainda, imagina da forma atual em cartões magnéticos de crédito/débito ou as cripto moedas (bitcoins) tão faladas nestes últimos tempos. Por tanto, monetizar o que lhe interessava ou o que você possuía era feito em forma de troca de bens. Em sua criação, na Grécia, eram peças de metal forjadas com peso e valor definidos, valores de cunho oficial, assim era dado a estas peças uma garantia de valor. No ano de 960 na China foi a primeira vez que se ouviu falar da aparição de cédulas, mas como não foi repassado aos outros países caiu em desuso e voltou as peças de metal, apenas em 1661 na Suécia apareceu a versão atual de monetização em forma de cédulas que enfim se popularizou e assim usamos até hoje.
O dinheiro no mundo capitalista é uma peça chave, a mola mestre, algo que todos precisam e querem, ele por si só já remete o poder, o ter, uma sensação que pra muitos é inexplicável, um prazer incomparável. E desde que se começou a vender que a felicidade é associada a possuir isso ou aquilo, e as marcas viraram alvo de cobiça e desejo, as pessoas perderam o senso e não medem esforços para possuir o que a mídia lança como sendo o top do momento, o que é imprescindível para você. Ligando o possuir a felicidade, ao prazer.
Consumidor é o nome dado às pessoas que adquirem produtos para seu consumo, roupas, alimentos, vestuário, etc… isso dentro das necessidades básicas do ser humano, mas dentro desta denominação existe uma grande fração de pessoas que são consumidores compulsivos, este consumo exagerado e desproporcional pode ter sido encadeado por emoções e traumas adquiridos, onde o gatilho que proporciona prazer naquelas pessoas só são exercidos quando elas estão comprando, mascarando suas angústias e frustrações. Quando as suas expectativas são depositadas no consumo desta forma, as coisas perdem o significado, aquelas que não tem preço podem deixar de ser apreciadas por este motivo, como as reuniões familiares, o “happy hour” com amigos e colegas de trabalho, entre outras coisas.
Podemos ver este fenômeno no filme “Delírios de consumo de Rebecca”, a protagonista vive atolada em dívidas intermináveis que a atrapalha em tudo, relações com os amigos, com a família, com o trabalho, ela compra compulsivamente de um tudo, desse tudo muita coisa sem necessidade alguma, sem nem ter tido vontade de possuir aquele tal produto antes, mas como estava na loja e tinha o bendito cartão de crédito, já foi, já era. Quando via já estava em casa olhando aqueles produtos adquiridos, era a compra só por comprar, sem nada que justificasse, isso à remetia como a conquista de uma medalha de ouro nas olimpíadas para um atleta, é algo assim fora do normal, imensurável.
O mundo moderno trouxe a praticidade, com as redes sociais sem sair de casa até você pede cartão de crédito, abre conta em banco, compra em lojas de departamentos de um tudo e recebe no conforto de seu lar, e as redes sociais com seus imperdoáveis algoritmos coloca na sua tela aquilo que pode lhe interessar e lhe induz de uma maneira que você nem percebe, se você fizer uma pesquisa sobre maquiagem no google ou qualquer outro lugar linkado com as redes sociais, os algoritmos invadem durante dias com anúncios e promoções daquele tipo de produto que você pesquisou, é um verdadeiro bombardeio de iscas esperando apenas fisgar mais um e fazer outra venda.
“Quem nunca perdeu o sono graças a um boleto atrasado que atire a primeira pedra. De acordo com pesquisas realizadas pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 80% das pessoas inadimplentes sofreram impacto emocional negativo por conta das dívidas. Na pesquisa, realizada no primeiro semestre do ano passado, o sentimento mais comum foi ansiedade, mencionada por mais de 60% dos entrevistados. Os brasileiros participantes também falaram sobre estresse, irritação, tristeza, desânimo, angústia e vergonha”.(Rafaela Baião, Jornal Estado de Minas)
O comportamento do consumidor compulsivo se assemelha com o do comedor compulsivo, já que toda compulsão vem de uma exigência interna que leva a pessoa ao ato de compelir, que o leva a realizar uma certa coisa, ou agir de uma certa forma, numa atividade excessiva e repetitiva, na tentativa de evitar uma aflição, preocupação. Este comportamento é destinado inconscientemente pela pessoa para reduzir seu desconforto psíquico, que pode ter sido gerado por uma ansiedade ou depressão. A pessoa com “Oniomania” (consumismo) também pode ter outros transtornos associados além da ansiedade e depressão, tais como: Bipolaridade, TOC – Transtorno obsessivo Compulsivo, apesar dela se encontrar com este tipo de transtorno, não faz por que simplesmente quer, é uma necessidade que sentem onde precisam fazer de qualquer jeito, de qualquer forma, custe o que custar, não mede esforços e não se preocupando com circunstâncias e consequências. Um impulso que o domina, esta compulsão só se torna uma doença mental quando interfere em seu cotidiano, sua rotina, colocando a pessoa em risco, principalmente em risco de saúde.
“No caso da compulsão pelo consumo, o alívio da ansiedade está relacionado à incorporação de determinado produto através da compra – “preciso ter”, “tenho que comprar” – são pensamentos recorrentes que visam desviar a atenção dos verdadeiros motivos causadores da ansiedade.” (Juliana Spinelli Ferrari)
Para a psicanálise as compulsões seriam, uma insistência do real da pulsão, do caráter acéfalo da pulsão, aquilo que da pulsão não passa por nenhuma representação. O objeto de gozo, ele em si não tem representações suficientes para a pessoa, sendo assim ela não pode assimilar a importância disso, simplesmente se vê atraído pelo objeto parece até um ímã, é uma forma de preencher aquele determinado vazio. Sempre temos um real declínio para o objeto oral primário que nos satisfaz, a pessoa por exemplo em casos de luto, não consegue situar-se e usa da compulsão como uma desculpa para continuar praticando o ato que estabelece o prazer, o gozo que a satisfaça a ponto de preencher a falta do ente querido. Durante a vida, a pessoa mantém uma relação com o seio, que é muito instável, e a partir das microlesões que são simbólicas, as suas dificuldades subjetivas da relação com o outro, dos seus percalços, a pessoa vai lá e compra o que vê pela frente para acabar com suas as mágoas e frustrações, com toda a sua angústia, mascarando sua ansiedade e ou qualquer outro transtorno que esteja tendo e não admite.
“A sensação de satisfação de ter, mesmo que esta seja passageira, corrobora com o sentimento de consumir mais ainda. O consumo compulsivo ou patológico leva o indivíduo ao endividamento e muitas vezes a contrair empréstimos para sanar os gastos. No entanto, como o consumo é compulsivo, pois o que está em jogo é o mal-estar que se vive, logo se cai na tentação de novas compras e o endividamento aumenta, criando, assim, uma bola de neve que cada vez mais só tende a crescer. O individualismo que reina atualmente leva o sujeito a estar e viver solitariamente, buscando preencher esse vazio no consumismo e nas mais variadas dependências.” (Jorge Roberto Fragoso Lins)
Nesta luta contra o prazer e a razão o consumidor compulsivo precisa de um acompanhamento psicológico, dependendo do grau também de acompanhamento psiquiátrico, para encontrar os gatilhos que a mantém nesta situação e combater suas frustrações e angústias de uma maneira que a sua saúde mental não seja mais tão afetada, assim como sua vida financeira já é. A pessoas com este tipo de transtorno acaba por estender o problema a familiares, cônjuges, parentes e amigos, e até colegas de trabalho e com isso estrangula as suas relações interpessoais. O que pode desencadear um novo processo traumático para ela.
Estabelecer metas financeiras, criar uma série de obstáculos que você seja impedido de comprar, uma lista de necessidades é fundamental para não cair nas mesmas armadilhas, evitar ir aos mesmos pontos que você já sabe que seu consumo fica mais obsessivo, tipo loja específica, shopping center, que aguce sua vontade de comprar. Desinstalar apps do celular para não correr riscos, e claro, principalmente aceitar ajuda para que essas ações sejam realmente feitas, a família é fundamental nesta ajuda, os amigos também, para isso assumir a condição é necessário e pedir ajuda também, começar uma terapia pode ajudar nestes casos, o quanto antes agir mais rápido pode tomar as rédeas dessa situação.
LINS, José Roberto Fragoso; Consumo Compulsivo, Um Consumo Patológico; www.estudodoser.blogspot.com; (2013) disponível em: https://estudosdoser.blogspot.com/2013/07/consumo-compulsivo-um-consumo-patologico.html acesso em: 29/09/2021 as 10h
ROIZMAN, Daniel Hamer; O Olhar da Psicanálise Sobre as Compulsões; www.healing.com.br (2018) disponível em: https://healing.com.br/2018/09/12/o-olhar-da-psicanalise-sobre-as-compulsoes/ acesso em 29/09/2021 as 9h.
FERRARI, Juliana Spinelli. “Consumo Compulsivo: Quando a Compulsão Manifesta-se Pelo Ato de Comprar”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/consumo-compulsivo.htm. Acesso em 28 de setembro de 2021.
Quem Inventou o Dinheiro? (2021) www.interessantesaber.com.br disponível em: https://www.interessantesaber.com.br/2016/03/quem-inventou-o-dinheiro/ acesso em: 17/09/2021 as 10:38h
HOGAN, P.J; Alpert, Kayla; Delírios de Consumo de Rebeca, Confessions of a Sophaholic (2009) Touchstone Pictures and Jerry Bruckheimer
MARQUES, José Roberto; Consumismo – Quais São Suas Consequências? (2020) www.ibccoaching.com.br disponível em: https://www.ibccoaching.com.br/portal/comportamento/consumismo-quais-sao-suas-consequencias/ acesso em 23/09/2021 às 09:40h
BAIÃO, Rafaela; Como Manter A Saúde Mental Mesmo Tendo Dívidas; (2021) Jornal O Estado de Minas www.em.com.br disponível em: https://www.em.com.br/app/colunistas/pago-quando-puder/2021/05/19/pago-quando-puder,1267736/como-manter-a-saude-mental-mesmo-tendo-dividas.shtml acesso em: 23/09/2021 as 10:40h
GONÇALVES, Cleber Baptista; Casa da Moeda do Brasil : 290 Anos de História 1694-1894; (1984) Rio de Janeiro Imprinta Gráfica Editora para Casa da Moeda do Brasil www.casadamoeda.gov.br disponível em: https://www.casadamoeda.gov.br/portal/socioambiental/cultural/origem-do-dinheiro.html#:~:text=As%20primeiras%20moedas%2C%20tal%20como,)%2C%20no%20s%C3%A9culo%20VII%20A.%20C..&text=Assim%20surgiram%20as%20primeiras%20c%C3%A9dulas,dava%20origem%20a%20institui%C3%A7%C3%B5es%20banc%C3%A1rias. Acesso em: 02/10/2021 8h.
Você pode ler a revista online aqui no site ou realizar o download. Para isto basta acessar o menu superior Edição Atual e Anteriores, escolher o ano, rolar a página para encontrar a edição desejada. Clicar no botão Ler Online ou Download.
Ew Sistemas TI.