Caetano Veloso uma certa vez disse “O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece”, e com este pensamento dele, creio que posso tentar entender por que coisas estigmatizadas sofrem com o que lhe foi atribuído. E como existem coisas rotuladas neste mundo que até hoje sofrem por este fenômeno. A psicologia é uma ciência que foi tachada e sofre a tempos pelo estigma já normatizado e cada vez mais vivo no senso comum: “Só vai pra psicólogo quem é doido”, quantas vezes você já ouviu alguém dizer está frase? E: “Eu não vou me consultar com um psicólogo, não sou nem doido, só doido precisa de psicólogo”, acho que quase ninguém pode dizer que nunca ouviu alguém falando assim. Afinal o que é estigma? Neste caso em específico é: Mácula no caráter ou reputação de algo ou alguém. Até quem está sofrendo com algum tipo de transtorno mesmo que leve, e tem consciência que precisa de uma terapia, ainda assim alguns seguem pelo senso comum, e não conseguem ir em busca de uma terapia por causa do dito popular.
O que é transtorno? Transtorno é uma alteração que causa incômodo na pessoa. No conceito histórico a psicologia herdou da psiquiatria este estigma, já que somente a psiquiatria que cuidava das pessoas com transtornos mentais, sendo a psiquiatria uma área médica, uma especialização voltada para o campo das doenças mentais graves, Philippe Pinel (1745-1826), foi um médico psiquiatra francês que ficou mundialmente famoso pelos métodos rígidos de tratamentos as pessoas com doenças mentais, que eram mantidas em manicômios (hospitais ou clínicas especializadas para o tratamento psiquiátrico), hoje vivemos em uma luta antimanicomial, onde estes locais foram fechados e os tratamentos agora são feitos de uma maneira mais humanizada, com uma participação mais presente da família e uma equipe multidisciplinar fazendo acompanhamento do caso.
O tempo até passou, desde Wilhelm Wundt (1832-1920) que foi o pai da psicologia, ele em 1879 criou o primeiro laboratório destinado aos fenômenos da consciência em Leipzig na Alemanha, um precursor, um homem com uma visão além do seu tempo, fazendo experimentos laboratoriais em busca das percepções, sensações e sentimentos, mas desde aquela época já existia este preconceito para com a ciência psicológica, herdada da psiquiatria. A psicologia agora já uma ciência centenária, mas que ainda assim é vista com esta ênfase, é vítima do preconceito, sofre com está conotação errada. O mais incrível é que mesmo sabendo disso vemos pessoas da área de saúde, mesmo nestes tempos pandêmicos, estigmatizando e normatizando este senso comum. Quantos transtornos poderiam ter tido alguma ajuda e não tiveram por causa deste estigma? Quantos suicídios, poderiam ter sido evitados, automutilação, síndrome de pânico, poderiam ter sido amenizados, com uma busca pela ajuda profissional de um psicólogo.
Mas o sinal de alerta foi aceso, infelizmente precisamos ter que passar por uma pandemia que perdura já há mais de um ano, para ver a real necessidade do tratamento em terapia psicológica, apesar da desvalorização da psicologia dentro do contexto social, já vemos por parte do poder público e seus gestores, uma nova visão quanto a demanda pelos profissionais de psicologia dentro do seu capital humano, é sabido que a demanda vai além dos equipamentos ofertados atualmente como: CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, CREAS – Centro de Referências Especializados de Assistência Social, CRAS – Centro de Referência da Assistência Social, NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da Família, Casa da Mulher Brasileira, entre outros. Já se vê necessário nas UBS – Unidade Básica de Saúde (Ainda muito conhecido por Posto de Saúde), Hospitais, Escolas e outros setores públicos, não só para a população em geral, mas também para as demandas dos servidores públicos.
Com este sinal de alerta aceso pela pandemia se pode perceber o quanto a fragilidade psicológica está aflorada, em qual tempo mesmo da história recente veríamos uma atleta de sucesso, prestigiada, que ama o que faz, que já bateu todos os recordes possíveis, com um carisma indelével, que é ícone e exemplo pra muitos outros atletas, como a atleta americana Simone Biles (1997), que pediu pra não participar das Olimpíadas de Tóquio no Japão, por se sentir incapaz psicologicamente de participar do que mais ama e que tanto esperava e se preparava para estar presente? Hoje muitos que não tinham qualquer alteração psicológica, durante este período desenvolveu algum tipo, e aqueles que já tinham, potencializaram em uma magnitude bem peculiar e subjetiva as suas, alguns outros desenvolveram transtornos além do que já tinha, e com isso tudo percebemos a fragilidade real do ser humano, o quanto não estamos preparados para o incomum, para o diferente, para o inesperado.
Muitos ficaram isolados, sem aglomerar, sem festejar, sem ir a lugar algum, e como isso adoeceu tanta gente, não se relacionar não era tão importante quanto passou a ser nestes tempos, até aqueles que gostavam de isolamento, perceberam o quanto é fundamental se socializar, o quanto é preciso viver em harmonia com as pessoas. Claro que mesmo nestes tempos não poderiam faltar os negacionistas e os egoístas, aqueles que não acreditam nem que o vírus exista ou que existe mas que a vacina pra nada vai servir, e os egoísta que festejam, aglomeram, viajam, são abastados, e não dependem de crise alguma para continuar a vida como sempre viveram e querem viver, não se importando com os demais, sem empatia alguma, muito do que foi visto de proliferação do vírus foi culpa destas pessoas, que transportaram o vírus de cá pra lá e lá pra cá, numa total falta de empatia com o próximo.
É preciso ser feito campanhas para uma conscientização popular da importância de se cuidar da saúde mental, quem sabe esta estigmatização tão presente, que sufoca a psicologia neste senso comum, um dia acabe ou pelo menos diminua significativamente. Afinal se cuidar hoje é fundamental, não só do corpo, mas também da mente, das doenças invisíveis, que trazem dores silenciosas e estão cada dia mais presente nas nossas famílias, o profissional em psicologia é um caminho indicado. Procure um psicólogo profissional ou indique um para quem esteja precisando e não se atenham ao que o senso comum estigmatizou, isso não reflete a realidade, procurar acolhimento, compreensão, terapia é hoje um fato consumado e não uma possibilidade remota e incomum, se conhecer, se perceber, é algo que pode lhe ajudar na construção da sua subjetividade.
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