A música está presente no nosso dia a dia, com seus diversos ritmos, melodias, sendo cantadas ou instrumentais consegue traduzir uma vastidão de sentimentos e emoções que pode nos transportar para um determinado tempo e/ou lugar, resgatar lembranças alegres e/ou tristes, despertando nossas sensações de prazer e/ou desprazer, ativando a memória.

            Segundo Robin Wilkins (2014) que fez uma pesquisa na Universidade da Carolina do Norte e publicou na Revista Scientifc Report, “Quando ouvimos determinadas canções, diferentes funções cerebrais são ativadas”. O hipocampo se alterara, quando os voluntários escutaram suas músicas preferidas, os padrões de atividades cerebrais evidenciaram o que agradava e o que não agradava. 

“Até agora, tínhamos a hipótese de que as canções favoritas eram uma espécie de estímulo superlativo que o mesmo padrão de atividade cerebral desencadeia, embora mais intenso, comparado com outras canções” (AUCOUTURIER, 2014)

A musicoterapia chegou para a psicologia como uma alternativa diferente de possível resgate destas memórias esquecidas. A Musicoterapia, método terapêutico no qual se utiliza a sonoridade, a música e/ou elementos musicais no tratamento de doenças, causa sensações de prazer proporcionadas pela experiência musical. Estas sensações de prazer tem a capacidade de manejar as dores causadas pela doença e/ou pelo ambiente hospitalar, trazendo com isso a sensação de bem-estar.

As sensações de prazer e bem-estar são frequentemente relacionadas à beleza, de modo que a experiência do belo é concebida, por muitos, como um fenômeno experimentado por meio do prazer que um indivíduo sente em determinada situação (PAÁL, 2005). 

Ritmo, melodia e harmonia, estes elementos da música aliados a beleza do lúdico, e a interpretação individual, atuam no cérebro da pessoa, processando e transformando com seus recursos, mexendo nas estruturas cerebrais e assim moldando qualitativamente as sensações de prazer.

 Dentre todas as possibilidades que emergem no processo musicoterápico, as sensações de prazer podem ser proporcionadas pela experiência musical. E a percepção individual será mais bem compreendida com o conceito de Identidade Sonora.

´É um conceito dinâmico que resume a noção de existência de um som, ou um conjunto de sons, ou de fenômenos acústicos e de movimentos internos, que caracterizam ou individualizam cada ser humano”. (BENEZON, 1971)

A história da chegada musicoterapia no Brasil se deu quando teve um congresso sul-americano realizado na Argentina em 1968, chamado “Jornadas Latino Americanas de Musicoterapia”, no mesmo ano no Rio de Janeiro foi fundada a “Associação Brasileira de Musicoterapia” e a “Associação Sul Brasileira de Musicoterapia” em Porto Alegre, em 1971 fundaram a “Associação Paranaense de Musicoterapia” e a “Assosiação Paulista de Musicoterapia”. 

Mas desde 1950 a música já vinha transformando vidas com terapias auxiliares em escolas e na ala psiquiátrica, D. Liddy Mignione criadora do CBM Conservatório Brasileiro de Música foi uma dessas precursoras, Liddy atendendo pedido de Dra. Nilze da Silveira que queria uma profissional para seu projeto no CPN – Centro Psiquiátrico Nacional, onde queria desenvolver além das artes que já havia começado a inserir no tratamento terapêutico de seus pacientes, queria incluir a música e Liddy indicou Ruth Loureiro Parames para o projeto.

Ruth foi admitida pelo Ministério da Saúde como Técnica de musicoterapia em 1955, mesmo tendo indo pra lá como professora de música, seu contrato só vigorou por 3 meses e depois ela foi confirmada nos quadros públicos como professora de ensino especializado cargo técnico em musicoterapia (MOURA COSTA; CARDEMAN, 2008).

O início da musicoterapia no Brasil deve-se muito à Cecília Fernandes Conde (1934-2018), Doris Hoyer de Carvalho (1928) e Gabrielle Sousa e Silva (1930-2021) todas elas eram musicistas e educadoras e se apaixonaram pelas perspetivas pedagógicas da musicoterapia. Cecília convidou Julliete Alvin para se juntar ao grupo e trazer ideias inovadoras para a prática, o pensamento de não haver um método certo, uma cartilha a ser seguida, “um som certo, preestabelecido, era preciso atuar a partir do som criado pela pessoa” (CONDE; FERRAR, 2020, p. 19).

Em 1969, Edgar Williams e Dr. Rolando O. Benenzon se aliaram as três musicoterapeutas pioneiras para cursos no Rio de Janeiro para intensificar a implantação dos cursos de musicoterapia na associação. Em 1970 e depois 1971, Dr. Rolando Benenzon, que é psiquiatra e músico argentino, passou a dar cursos para instruir e aprimorar os musicoterapeutas da associação até chegar o momento da discussão sobre efetivar o curso de Musicoterapia junto a CBM.

Vale salientar o pioneirismo também de Dra. Di Pâncaro (1935-2020) na Associação Sul Brasileira em Porto Alegre e da Dra. Clotilde Spínola Leinig (1913-2009) na Associação Paranaense em Curitiba.

Os primeiros registros conhecidos de uso da música como método de terapia se deu quando arqueólogos encontraram menções nos papiros de Lahun. Mas a Bíblia trouxe nos Livros de Samuel, que falava sobre Davi tocando harpa para o Rei Saul, o Rei sofria com alucinações e delírios recorrentes, até ouvir Davi e sua harpa pela primeira vez, a partir dali ele só conseguia ficar um pouco mais tranquilo quando escutava aquele som e com isso voltava a sentir uma sensação de bem estar que tanto queria e precisava.

Apolo era o Deus Grego da Música e da Medicina, insinuando desde lá a possibilidade do uso da música como método de cura. Platão dizia que a música afetava as emoções e poderia influenciar no caráter do indivíduo. No século VI, Al-Farabi que era um músico, filósofo e cientista muçulmano, fez referência ao efeito terapêutico da música, em suas experiências. 

No século XVII Richard Burton autor de “Anatomia da Melancolia” que a música e a dança eram fundamentais no tratamento de doenças mentais. E os Drs. Paul Nordoff, Clive e Carol Robbins que fundaram a Nordoff-Robbins Center For Music Therapy 1989 mas desde 1959 já atuavam como musicoterapeutas, dando mais credibilidade ao conceito terapêutico da musicoterapia.

Há alguns anos vemos as intervenções dos Doutores da Alegria nos hospitais, levando o mundo lúdico do circo e seus palhaços, assim também como a música naquele ambiente para assim resgatar a alegria dos pacientes que estão em tratamento hospitalar.

O grupo O Teatro Mágico também interveio em situações semelhantes e assim como os Doutores da Alegria conseguiram obter uma receptividade dentro do ambiente hospitalar, e levando alegria, brincadeiras e música para este ambiente pode concluir que os pacientes sentem uma sensação de bem-estar e amenizam as dores com o tratamento.

No filme A Música Nunca Parou (The Music Never Stopped), que é baseado em um conto de Oliver Sacks chamado “O último Hippie (The Last Hippie)” podemos ver a eficácia da musicoterapia em um paciente.

Após 20 anos sem se verem um pai recebe uma ligação do hospital pedindo sua presença por causa de seu filho, o pai recebe dos médicos a notícia que o filho tem um tumor cerebral e precisa operar, após a operação o filho perde uma parte do cérebro onde fica o hipocampo, setor responsável pela memória, e por não lembrar de muita coisa o filho fica sem conseguir interagir.

Indicaram ao pai que o filho fizesse terapia com música e o pai mesmo sem acreditar muito foi em busca de ajuda, e contratou uma musicoterapeuta, em suas sessões ela logo conseguiu achar uma maneira de se comunicar com o rapaz, sempre que ela tocava musicas dos anos 60 e 70 ele começava a interagir, relembrando momentos vividos, sorrindo, contando histórias da época destas lembranças, estas musicas ativavam suas memorias e por isso começou a interagir com o pai e com outras pessoas, tendo uma significativa melhoria.

A musicoterapia é uma especialização que o psicólogo pode fazer após a conclusão do curso e assim usar para atendimentos com seus pacientes.  É importante ressaltar que a musicoterapia é um processo sistemático de intervenção que é usado para a promoção da saúde que usa uma metodologia multidisciplinar onde a ferramenta principal é a música, se torna necessário que o musicoterapeuta seja músico.

REFERÊNCIAS

A Música Nunca Parou (The Music Never Stopped). (2011) Direção Jim Kohlberg baseado num conto de Oliver Sacks “O Ultimo Hippie (The Last Hippie)” 

Ciência Explica Por Que A Música Desperta Sentimentos Nostálgicos (2014) Disponível em: https://www.bonde.com.br/comportamento/em-dia/ciencia-explica-por-que-a-musica-desperta-sentimentos-nostalgicos-339095.html  Acesso em 15/04/2022

Chagas, Marly. Breve História da Musicoterapia no Brasil. Disponível em: https://ubammusicoterapia.com.br/institucional/musicoterapia/historia-no-brasil/ Acesso em: 18/03/2022 as 20h.

Geiger, Luciene; Araújo, Gustavo Andrade de. Contribuições da Musicoterapia para a Promoção de Saúde Docente no Contexto Escolar. Revista Brasileira de Musicoterapia (BRJMT) – (UBAM). Ano XIX. Edição nº 23. Ano 2017. (p. 8-31) Disponível em: https://www.revistademusicoterapia.mus.br/wp-content/uploads/2019/03/1-Contribui%C3%A7%C3%B5es-da-musicoterapia-para-a-promo%C3%A7%C3%A3%o-de-sa%C3%BAde-docente-no-contexto-ecolar.pdf acesso em 12/03/2022 às 14h.

Jacinto, Silene Aparecida Santana; Gutierrez, Ramon Werner Heringer; Taets, Gunnar Glauco de Cunto Careli. O Impacto das Sensações de Prazer Proporcionadas Pela Música em Atendimento Musicoterapêutico Com Pacientes Hospitalizados. Revista Brasileira de Musicoterapia (BRJMT) – (UBAM) Ano XXII. Edição nº 28 Ano 2020. (p. 89-112) Disponível em: https://www.revistademusicoterapia.mus.br/wp-content/uploads/2020/12/O-IMPACTO-DAS-SENSACOES-DE-PRAZER-PROPORCIONADAS-PELA-MUSICA-EM-ATENDIMENTO-MUSICOTERAPEUTICO-COM-PACIENTES-HOSPITALIZADOS-Jacinto-et-al.pdf  Acesso em: 18/03/2022

PAÁL, G. Em busca de Vênus. Viver Mente e Cérebro, v. 8, n. 145, 2005.

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